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terça-feira, 15 de dezembro de 2015

O alívio da ansiedade


Conheça os novos tratamentos e as descobertas que ajudam a controlar as crises e melhorar a qualidade de vida daqueles que sofrem com a chamada doença do século 


  Neste momento, uma em cada quatro pessoas no mundo está com uma sensação de aperto no peito, sentindo o coração bater mais rápido, com as mãos suando. Na mente, um medo inexplicável ou preocupação obsessiva com algo que ainda nem aconteceu. Esses são alguns dos sintomas das crises de ansiedade, um dos transtornos mentais mais incidentes da atualidade e, assim como os demais, extremamente cruel. Dependendo do grau, tira o sono do indivíduo, deixa-o mais predisposto a sofrer de enfermidades cardiovasculares e o priva de sair de casa quando o medo atinge níveis incontroláveis.
Estudos mostram que a ansiedade é mais frequente do que transtornos de humor como a depressão. E dados divulgados pelo World Health Mental Survey, ligado à Organização Mundial da Saúde, revelam um triste panorama para o Brasil: 20% das pessoas que vivem em São Paulo convivem com ou tiveram algum transtorno ansioso nos últimos 12 meses. “Foram analisadas cidades de 24 países. Em São Paulo, encontramos o índice mais elevado”, diz Laura Andrade, do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP). Mas um esforço monumental da medicina para buscar as origens da doença e criar novas opções de tratamento promete dar alívio a quem sofre desse pesadelo.

A ansiedade fazia parte das reações que nossos ancestrais manifestavam diante de ameaças como a possibilidade de um ataque animal ou a morte por frio extremo. Preocupar-se com esses eventos mantinha o corpo em alerta: mais tenso, pressão elevada, maior bombeamento de sangue. Se o perigo se concretizasse, o corpo estava pronto para reagir. Se não, o sistema era desligado. Esse esquema ficou gravado no cérebro e até hoje entra em ação diante de situações interpretadas como risco. Essas circunstâncias podem ser reais ou fictícias, resultado de mecanismos psíquicos não totalmente esclarecidos. O problema é que, se esse estado de preocupação se torna crônico, caso da ansiedade generalizada, ou leva a crises espontâneas, como os ataques de pânico, deixa de ser uma reação natural. Causa prejuízos à saúde e à vida social, afetiva e profissional. Transforma-se em doença.

img1.jpg TERAPIA
Adriana Mazzagardi tem a ajuda dos cavalos para controlar o sentimento
Atualmente, há catalogados oito tipos da enfermidade (leia mais detalhes no quadro à pág.84). Como ocorre com a maioria das enfermidades mentais, há dificuldade na detecção do problema. “Um estudo feito em Londres, pelo psiquiatra Paul Bebbington, mostrou que apenas 14% dos pacientes tinham sido diagnosticados e tratados no ano anterior ao trabalho”, contou Márcio Bernik, coordenador do Programa de Ansiedade (Amban) do Instituto de Psiquiatria da USP. O diagnóstico é feito por psicólogos ou psiquiatras, que recorrem a perguntas definidas para identificar a alteração, como ela se insere na vida do indivíduo e sua gravidade. “Uma das primeiras perguntas é se a pessoa sente que teve prejuízo em algum campo ou momento da vida por causa da doença”, diz o psiquiatra Bernik.
O tratamento varia de acordo com o transtorno especifico e a intensidade da enfermidade. Nos casos mais leves, indicam-se apenas medicamentos ou sessões de terapia cognitivo-comportamental (TCC), método cujo objetivo é modificar padrões de pensamentos e comportamentos associados. Uma pessoa que tenha receio permanente de perder o emprego, por exemplo, pode ser treinada para evitar esses pensamentos ou substituí-los por outros, mais otimistas e calcados na realidade. Nos casos moderados e mais graves, é recomendada a combinação de remédios com a TCC. Um trabalho da psicóloga Mariângela Savoia, ligada ao Amban, mostrou que essa associação foi mais eficaz do que o uso isolado dos métodos.

Os recursos criados recentemente são utilizados para os casos mais severos e que não respondem ao tratamento padrão. Um dos mais promissores é a aplicação da realidade virtual. A terapia consiste em expor o paciente – de modo virtual – às situações que desencadeiam crises para que, aos poucos, ele aprenda formas de evitar os pensamentos ansiosos. Na Universidade de Washington (EUA), o método está sendo aplicado para tratar fobias, a ansiedade gerada pelo estresse pós-traumático e aquela sentida durante a troca de curativos em pacientes com queimaduras. “Temos bons resultados”, disse à ISTOÉ Hunter Hoffman, coordenador da equipe que aplica a técnica.
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Semelhante à realidade virtual, a terapia de modificação cognitiva com auxílio de computador também desponta como alternativa. Um trabalho da Brown University (EUA) mostrou que indivíduos com fobia de falar em público melhoraram depois de se submeter aos exercícios duas vezes por semana, por um mês. Eles consistem em instruir o paciente a evitar expressões faciais hostis – para quem tem fobia social isso detona crises – e a interpretar as reações de interlocutores de forma otimista.
Começa também a ser testada a eficácia da estimulação magnética transcraniana. A técnica submete o paciente a aplicações de ondas eletromagnéticas. O objetivo é regularizar a atividade elétrica nas regiões cerebrais associadas à doença (leia mais no quadro à pág. 82). O médico Marco Marcolin, do Instituto de Psiquiatria da USP, iniciará até o fim do ano testes com 30 pacientes com fobia social. Por enquanto, não há nada conclusivo. Estudos com o método para tratar a ansiedade associada ao estresse pós-traumático deram resultados negativos no Brasil e positivos na Europa.

Ganhando espaço na prática clínica está o neurofeedback, método que se propõe a imprimir no cérebro um novo padrão de funcionamento, igual ao de uma pessoa sem a doença. “Eletrodos colocados sobre o couro cabeludo fazem a leitura da informação neurológica que está sendo produzida e registrada por eletroencefalografia”, explica o psicólogo Leonardo Mascaro, mestre em neurociências pelo Núcleo de Neurociências e Comportamento da USP e autor do livro “Para Que Medicação?”. Segundo ele, na presença de enfermidades como a ansiedade, os dados revelam padrões eletroencefalográficos anormais e específicos que possibilitam o reconhecimento da doença ou de outros comprometimentos neurológicos.
img2.jpg TECNOLOGIA
Acima, o psicólogo Mascaro acompanha a sessão de neurofeedback da
empresária Marisa. Abaixo, paciente com queimadura no braço usa equipamento
de realidade virtual. O recurso o ajuda a diminuir a dor e a ansiedade
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No treinamento, o paciente visualiza as alterações e também os padrões normais. “Os parâmetros corretos são então apresentados de volta aos neurônios por meio de um trabalho de condicionamento feito sob a forma de sinalização sonora e visual”, diz Mascaro. Essas sinalizações ocorrem somente quando os neurônios em treino produzem o tipo de atividade que está sendo solicitada. “Dessa maneira acontece a aprendizagem neurológica e a modificação da atividade cerebral, que se normaliza progressivamente”, complementa o psicólogo. “Conforme o tratamento caminha, a pessoa necessita de menos medicação e a retirada do medicamento acontece, sempre sob supervisão médica”, assegura Mascaro. A empresária Marisa Rollemberg Rocha, 40 anos, de Brasília, submeteu-se a três sessões até agora. “Já consigo dormir melhor e passei a suar menos nas mãos”, diz. A técnica, porém, não é aceita por todos os médicos. Bernik, do Amban, não a considera eficaz.
O desenvolvimento de instrumentos como esses só foi possível a partir do avanço do conhecimento sobre as bases neurológicas da doença. Apesar de a identificação das estruturas cerebrais vinculadas à enfermidade ter sido feita há algum tempo, dezenas de pesquisas estão revelando detalhes sobre a interação entre elas. Cientistas da Columbia University (EUA), por exemplo, descreveram a maneira pela qual operam o hipocampo e o córtex pré-frontal medial. “Vimos que o hipocampo envia muita informação para esta área do córtex, fazendo com que ela reconheça o ambiente como uma ameaça”, explicou Joshua Gordon, autor da pesquisa.

Por aqui, o psiquiatra Luiz Vicente Mello, de São Paulo, participa de um esforço internacional para entender melhor a relação entre comportamentos ansiosos e mecanismos de defesa legados pela evolução. “Muitas das nossas reações são anacrônicas. Ao mesmo tempo, não temos defesas para situações recentes, como o medo de carros, que precisa ser ensinado”, diz.
img4.jpg ENERGIA
O psiquiatra Marcolin iniciará os testes para verificar a eficácia da aplicação
de ondas eletromagnéticas em centros cerebrais associados à doença
Ainda na USP, cientistas investigam a relação da enfermidade com o sistema serotonérgico do cérebro. Recentemente, o psiquiatra Felipe Corchs, em estudo feito no Amban com universidades da Inglaterra, Nova Zelândia e Austrália, observou que as diferenças na quantidade de serotonina (substância que faz a comunicação entre neurônios) interferem na sensibilidade aos estímulos que iniciam crises. Para chegar a essa conclusão, os cientistas deixaram sem comer proteínas um dia inteiro voluntários que já haviam sido tratados de transtornos ansiosos. Não ingerir proteína prejudica o aporte de triptofano, aminoácido essencial para a formação da serotonina.
O resultado foi surpreendente: pacientes com pânico, estresse pós-traumático e fobia social ficaram mais sensíveis aos gatilhos de crise, sugerindo que a serotonina tem papel na modulação dessa resposta. “E pessoas que tinham melhorado com o tratamento pioraram quando os níveis da substância diminuíram”, explicou Felipe. A redução do composto não causou o mesmo impacto em pacientes com ansiedade generalizada e transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). Para estes, o que parece é que o contrário, o aumento na concentração da serotonina, faz diferença. Um outro estudo, feito pelo psicólogo Thiago Sampaio, também do Amban, indicou que portadores de TOC que possuem maior concentração de serotonina respondem mais rápido à terapia.

Intervir nas situações em que a ansiedade pode prejudicar o tratamento é hoje uma atitude incorporada por alguns hospitais. No Albert Einstein, em São Paulo, psicólogos entram em ação para atender pacientes internados que apresentam sintomas da doença. “Uma das formas de reduzi-los é ajudar os doentes a esclarecer suas dúvidas”, diz Ana Kernkraut, coordenadora do serviço de psicologia do hospital.
Nos EUA, médicos usaram a terapia com animais para diminuir o sentimento em indivíduos que se submeteriam a exames de imagem, situação que desencadeia temor. No Monmouth Medical Center, 28 pacientes que fariam ressonância magnética foram selecionados para brincar com cães por 15 minutos, meia hora antes de fazer o exame.
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Comparados a doentes que não tiveram esse tempo com os animais, eles manifestaram muito menos ansiedade. “A terapia mostrou potencial para substituir os remédios contra crises às vezes dados aos pacientes”, disse Richard Ruchman, autor do estudo.
No Brasil, nos centros de equoterapia é possível aliviar os sintomas com o auxílio dos cavalos. A empresária Adriana Mazzagardi experimentou esses efeitos durante as aulas de equitação que teve na infância e decidiu expandir o benefício. “Os cavalos me ensinaram a controlar a minha ansiedade, que era muito intensa”, diz Adriana, que está à frente do Centro Equestre Equovita, em Jundiaí (SP). O local é frequentado por muitas pessoas em busca de alívio das tensões. “Se você está ansioso e sem concentração, o cavalo percebe e reage. Você precisa estar atento e calmo para que ele se deixe conduzir”, diz Adriana.

Manter a ansiedade sob controle é também importante porque reduz riscos para outras doenças. Na semana passada, pesquisadores da Stanford University (EUA) divulgaram os resultados de um estudo com animais, indicando que o sentimento contribui para o surgimento de tumores. A explicação é a de que a ansiedade costuma vir acompanhada de estresse. Juntas, as condições enfraquecem o sistema de defesa do organismo. “Eles podem acelerar a progressão do câncer”, afirmou o imunologista Firdaus Dhabhar, autor do experimento.

A conexão com a depressão também está sendo investigada. Um trabalho patrocinado pelo Canadian Institutes of Health Research apontou uma molécula (CRFR1) como a responsável pela interação entre a ansiedade, o estresse e a doença. Um primeiro passo já foi dado para quebrar a associação: em cobaias, a inibição da produção dessa molécula atenuou a ansiedade.

Mais conhecida, a relação da enfermidade com os males cardiovasculares exige também atenção. Tanto que médicos do Montreal Heart Institute, também no Canadá, fizeram um trabalho para provar que pacientes em risco para doenças do gênero e que apresentem traços de ansiedade devem ser submetidos a uma tomografia do coração, e não apenas a um eletrocardiograma. “O exame de imagem é mais efetivo para identificar doença cardíaca nesses indivíduos”, afirmou Simon Bacon, coautor do experimento.
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Texto de Cilene Pereira e Mônica Tarantino.
 Fonte:  http://www.istoe.com.br/reportagens/203946_O+ALIVIO+DA+ANSIEDADE

Fotógrafa revela como é ter ansiedade em 12 imagens


Joy Katie Crawford é uma fotógrafa talentosa que luta com o transtorno de ansiedade há anos. Talvez por isso não haja ninguém melhor para criar uma série de fotos que nos mostra como é viver com esse fardo.
"A ansiedade impede o doente do risco de descoberta, o desejo de explorar novas idéias, e a possibilidade de sair de uma zona de conforto”, ela escreve na descrição do seu projeto. Usando minhas próprias histórias e experiências, estou capturando a essência crua da ansiedade. Através desta jornada pessoal, eu cresci e descobri que descrever os meus medos se tornou terapêutico, bem como uma porta de entrada para os outros expressarem sua opressão e iniciarem o seu próprio processo de cura.
Veja as fotos abaixo:



 "Um copo de água não é pesado. É quase estúpido quando você tem que escolher um. Mas e se você não pudesse esvaziá-lo? E se você tivesse que suportar o seu peso por dias … meses … anos? O peso não muda, mas a carga sim. Em um certo ponto, você não consegue se lembrar de como a luz era."

 "Você foi criado por mim. Você foi criado pela minha reclusão. Você foi criado na defesa venenosa. Você é feito de medo e de mentiras. Medo de promessas unilaterais e de perder a confiança tão raramente dada. Você foi se formando durante toda a minha vida. Cada vez mais forte."


"Eles continuam me dizendo para respirar. Eu posso sentir meu peito se movendo para cima e para baixo. Mas por que sinto que estou sendo sufocada? Eu coloco a minha mão debaixo do meu nariz, certificando-se que há ar, mas eu ainda não consigo respirar."


"Cortes tão profundos que é como se eles nunca fossem curar. Dor tão real, quase insuportável. Tornei-me isto… Este corte, essa ferida. Tudo o que sei é esta mesma dor; respiração afiada, olhos vazios, as mãos trêmulas."


" Eu tenho medo de viver e eu tenho medo de morrer. Que forma de existir."



"Depressão é quando você não pode sentir. Ansiedade é quando você sente muito. Ter ambos é uma guerra constante dentro de sua própria mente. Ter ambos significa não ganhar."


Fonte: http://www.boredpanda.com/surreal-portraits-anxiety-disorder-my-anxious-heart-katie-joy-crawford/

Reflexão breve e oportuna: Meses coloridos




   Não sei como nem de onde surgiu a ideia de iluminar monumentos públicos importantes com cores que significam alguma mensagem.  Estas estratégias coloridas alertam, principalmente, para algumas doenças importantes que necessitam de prevenção precoce, como o câncer de mama e o de próstata.
 Desconhecia ser o amarelo um apelo visual para a prevenção do suicídio. Em grandes tragédias nacionais ou mundiais, também os monumentos de maior visibilidade são iluminados.
Recentemente grande número de cidades do mundo tiveram seus pontos de maior referência iluminados com as cores da França, em sinal de solidariedade ao brutal atentado sofrido pela capital mais charmosa do planeta Terra, com um saldo de cento e trinta mortos, até o momento, e centenas de feridos.
Eventos festivos como o Natal, conquista de campeonatos e outros, são motivos para os monumentos receberem coloração adequada à festa.  
No caso do suicídio, a Dra. Rosylane Rocha, do Conselho Federal de Medicina (CFM), entende que a sua prevenção é um pouco complicada, pois ele é tratado como um tabu pela sociedade. Diz ela: “o suicídio é o desfecho de uma doença física ou mental e pode ser prevenido quando falamos sobre o assunto”. Para ela é de suma importância a divulgação deste tema. De acordo com a cartilha elaborada pelo CFM para prevenção de tal ato, motivado por razões religiosas, morais e culturais, o suicídio é considerado transgressão às leis divinas, o que dificulta um diálogo aberto sobre o tema. 
 Como entender homens e mulheres bombas que praticam o suicídio por razões religiosas?
É difícil saber distinguir, diante desse quadro, o certo do errado.
A verdade é que nos últimos dias acordamos sempre com notícias de suicídios por motivações religiosas, nas mais diversas nações do mundo.
Por enquanto, esses ataques terroristas estão limitados a países europeus e asiáticos. Ameaças estão sendo feitas também aos países do continente americano.  Mas como prevenir esses suicídios, geralmente praticados por jovens?
Com que cores deveremos iluminar permanentemente os nossos monumentos para que a paz volte a reinar entre os homens?

Fonte: coluna de Gabriel Novis Neves no jornal eletrônico Folhamax, de Cuiabá.
www.folhamax.com.br/opiniao/meses-coloridos/69541

domingo, 6 de dezembro de 2015

Superexposição da sexualidade e nudismo de jovens e adolescentes acabam levando ao suicídio



 Entre jovens e adolescentes, expor a nudez ou até mesmo atos sexuais em mídias vem sendo uma prática muito comum na contemporaneidade. Porém muitos adolescentes, ainda na construção de seu ser e em formação moral, são incapazes de medir as consequências desse ato e que pode acabar os levando a buscar o suicídio por não suportarem a dor moral diante deste ato que é considerado depravado pela sociedade. Freud diz que entre os perversos, prioritariamente na infância, existe a compulsão a atingir um grau de sintoma alto que é o a exposição da nudez. Para ele, considerando-se a perspectiva da sua subjetividade, esses são os exibicionistas e todos nós somos perversos em potencial, e por estarmos em um contexto social muito diferente da sua época, a exibição entre os jovens e adolescentes tornou-se muito comum.
Os relacionamentos entre jovens e adolescentes acontecem cada vez mais cedo e valorizando mais o sexo. Geralmente já tem relações sexuais logo no primeiro, o que hoje é algo absolutamente normal, sem constrangimento, e ainda sendo elas, muitas vezes, relações passageiras. Neste contexto soma-se ainda a praticidade dos aplicativos de smartphones que permitem aos jovens casais a busca de uma nova forma de se satisfazerem sexualmente, através de mensagens, vídeos, áudios e fotos contendo nudez ou até mesmo sexo explícito.
O problema geralmente acontece quando os namorados ou “ficantes” resolvem compartilhar com amigos essas mídias de sua respectiva parceira ou parceiras, no intuito de se exibir em seu círculo social como o “pegador”, o que nos remete a um perfil típico de narcisismo segundo a psicanálise Freudiana. Essa exposição não é compreendida por esses Jovens e adolescentes que não entendem a possibilidade desse material compartilhado cair em “mãos erradas”, ou de atingir um número muito grande de pessoas, que terá consequências incalculáveis à pessoa superexposta em sua saúde mental e no âmbito social.
No texto de 1914 Freud discorre sobre o Narcisismo, quando afirma claramente que as pulsões autoeróticas fazem parte da formação do ego correspondente, e que remete ao novo ato psíquico, no qual ele chama de narcisismo primário e que faz parte da formação do nosso ego. É exatamente nesta fase de personificação em que se encontra o adolescente nos tempos atuais que deparamos com essa necessidade psíquica de se auto erotizar que acaba por se expor e expor o outro.
Nas redes sociais, jovens compartilham suas fotos estampando sorrisos, olhares e caretas de forma sensual. Garotas posam para seu celular com maquiagem, unhas feitas, usando roupas de colegial ou até mesmo de ocasiões festivas, sozinhas ou com amigos (as), ostentando sua imagem e sua sensualidade. Talvez esta exposição seja de forma inconsciente  já que o adolescente está na construção de sua personalidade, e neste momento ele testa, imita e tende a seguir um comportamento influenciado por modismo ou identificação subjetiva, afim de se auto afirmar.
Não se trata de culpar as ferramentas virtuais mas sim o peso que existe em um ciberbulling para aqueles que estão em um processo de personificação e de entendimento do mundo. Os adolescentes acabam sofrendo muito ao expor sua intimidade nestas proporções e eles ficam marcados, mal falados e acabam por pagarem um preço muito alto. As meninas que têm tal exposição são as sempre as “vítimas”, que acabam sendo “apedrejadas”, xingadas, e muitas têm que mudar de cidade e deixar a escola. Elas são perseguidas e sofrem repúdio de todas as formas, sendo tratadas como promíscuas e prostitutas, o que acaba trazendo a elas um sofrimento e que se estende aos familiares.
 Ainda numa cultura patriarcal, a mulher “correta” é associada a uma imagem puritana, de uma pessoa santa e perfeita, cultura essa que foi muito influenciada pelas religiões. Quando essa superexposição vem à tona, gravações de atos sexuais ou imagens exibindo nudez espalhadas na rede, é aí que surgem os comentários e críticas de baixo calão. O jovem está tendo que aprender com o virtual real, ou seja, o virtual no qual faz parte e afeta sua realidade.
Essas garotas ao serem expostas, são retalhadas por uma cultura ainda machista, o que as leva a sofrerem uma rejeição social, se deprimem e não querem mais viver, pois se sentem desconfortáveis e envergonhados diante da circunstância. Essa não aceitação social causa-lhes grande constrangimento e muitas jovens pensam em suicídio e chega por muitas vezes a cometê-lo. Há relatos que em alguns casos de garotas que suicidaram, existia o medo de encarar a família diante a essa situação, escrevem posts em seus blogs ou redes sociais descrevendo a sensação de humilhação. Na maioria as mais atingidas são mulheres, e os homens acabam ganhando fama de "pegadores". Elas têm vergonha de como os familiares podem sofrer diante do ocorrido e medo de como os pais, amigos e sociedade podem reagir.
Buscar amparo nas pessoas mais próximas e de confiança pode ser uma boa forma inicial de lidar com a situação. Ter o apoio das pessoas que nos amam e nos querem o bem nos dá ânimo e força para passar por estes momentos difíceis. O apoio psicológico é fundamental, ajuda a nos autoconhecer e lidar com a pressão psicológica e também nos prejuízos causados nas esferas sociais como um todo.


Referência Bibliográfica

VALAS, Patrick. Freud e a Perversão. CIP Brasil, 1990. Disponível em: <>. Acesso em 23 novembro. 2015.
AUGUSTO, Luís. Freud, Jung e Lacan: Sobre o inconsciente. U. Porto. Disponível em: <> Acesso em 23 novembro. 2015.



segunda-feira, 30 de novembro de 2015

RELAÇÃO AMOROSA E TENTATIVA DE SUICÍDIO NA ADOLESCÊNCIA: UMA QUESTÃO DE (DES) AMOR

O outro amado seria capaz de motivar o desejo de desistir de viver ?


      O suicídio é um fenômeno presente em todas as civilizações, adquirindo, assim, diferentes significados, de acordo com cada cultura. O que dizer, então, da tentativa de suicídio de um adolescente por motivos amorosos? O outro amado seria capaz de motivar o desejo de desistir de viver? Isso nos faz pensar acerca da forma como o amor se expressa entre os adolescentes, podendo tornar-se um motivo ou razão para que se desista de viver.
      Autores como Dias (1991b), Dutra (2000) e Mustelier (2005), pensam que a questão amorosa, representada pela perda ou separação do outro amado, é um dos motivos presentes na tentativa e/ou no suicídio exitoso. Por exemplo, o fim de um relacionamento amoroso, o desprezo do ser amado ou até mesmo a ameaça de abandono por parte deste.
      Para Sabino (1986, p. 144), "o suicídio é um ato de publicidade: publicidade do desespero". Em relação a essa reflexão, Abasse, Oliveira, Silva & Souza (2009) apontam que o suicídio ou a sua tentativa revelam uma dor emocional que o sujeito considera ser intolerável e com a qual acredita não ter capacidade de lidar. Jacobs (1971) conclui que um jovem é capaz de atentar contra a própria vida quando se sente totalmente abandonado, efetivamente sem qualquer esperança de alcançar um "relacionamento social significativo".
      Cassorla (1991) chama a atenção para uma peculiaridade que permeia as tentativas e ideações suicidas em mulheres adolescentes que muito interessa ao nosso estudo: muitas vezes, as tentativas de suicídio estão relacionadas a razões amorosas, afetivas. Esse autor percebeu que o ato suicida geralmente ocorre após uma desilusão em relação a uma pessoa significativa, como namorado ou figura parental, que ameaça abandonar a jovem ou que ela sente que irá abandoná-la. Para ele, os estudos de vínculos afetivos dessas jovens, em que a ruptura ou ameaça da ruptura do vínculo leva ao ato suicida, fornecem uma pista: a de que essa relação é de tal intensidade constituída que os limites do self (conceito de si mesmo ) se confundem, de modo que a pessoa não sabe mais onde começam e onde terminam os próprios desejos e fantasias e onde começam os do outro. Percebe-se, então, uma formação de relação simbiótica; assim, a perda do parceiro é sentida como perda de parte de si mesma, onde estavam projetados muitos aspectos idealizados.
       Dias (1991b) também realiza reflexões sobre o suicídio amoroso. Para essa autora, o indivíduo, muitas vezes, atribui a responsabilidade de seu ato ao outro parceiro ou, até mesmo, dedica a sua tentativa de auto-extermínio a esse outro ser. Essa autora considera que aquele que tenta suicídio em situação de abandono se mata ansiando matar o outro dentro de si mesmo. Caruso (1989) pensa que a separação de um casal traz a vivência da morte na sua consciência, face ao desaparecimento do outro em si mesmo. Dutra (2002), refletindo acerca da tentativa de suicídio de jovens, observou, entre os que praticam esse ato, que havia, em cada um deles, uma falta de amor e busca de um outro; necessidade de ser amado e de se sentir aceito, percebidos em seus relato da experiência de quase morrer.
      Tais estudos e idéias nos levam a pensar na tentativa de suicídio, na escolha por não mais viver, como um (des) amor a si, uma falta de amor a seus projetos de vida, seus sonhos, uma falta de amor ao que se é e à própria vida. Um amor que, na relação amorosa, se expressa num reconhecimento de si através do outro, e que propicia ao jovem se perceber como pessoa existente e um ser de potencialidades. Ao perder o outro, ou na ameaça de perda desse outro no qual ele se reconhece, o adolescente perde um pouco de si, do que é, e como foi dito anteriormente, é lançado na solidão que lhe é inerente, lançado num mundo em que é responsável pelo que é pela sua vida e seu destino.



REFERÊNCIAS :

Abasse, M. L. F., Oliveira, R. C., Silva, T. C. & Souza, E. R. (2009). Análise epidemiológica da morbimortalidade por suicídio entre adolescentes em Minas Gerais, Ciência & Saúde Coletiva, 1(2),407-416.

Cassorla, R. M. S. (1991). Do Suicídio: Estudos Brasileiros. São Paulo: Papirus.

Dias. M. L. (1991). Suicídio, testemunhos de adeus. São Paulo: Editora Brasiliense.

Dutra, E. M. S. (2000). Compreensão de tentativas de suicídio de jovens sob o Enfoque da Abordagem Centrada na Pessoa. Tese de Doutorado não-publicada. Universidade de São Paulo, São Paulo.

Dutra, E. M. S. (2002). A narrativa como uma técnica de pesquisa fenomenológica. Estudos de Psicologia, 7(2),371-378.

Erikson, E. (1987). Identidade, Juventude e Crise. Rio de Janeiro: Editora Guanabara (Original publicado em 1968).

Jacobs, J. (1971). Adolescent suicide. New York: Wiley.

Mustelier, L. I. (2005) ¿Adolescentes Problemas o Problemas de la Adolescencia?, Monografia não publicada, [citado em 10 abril 2005], disponível em World Wide Web: http://www.monografias.com/trabajos13/adopro/adopro.shtml#sui.

Sabino, F. (1986). Suíte ovalliana. In Fernando Sabino, As melhores crônicas de Fernando Sabino [pp. 139-145]. Rio de Janeiro: Record.


Suicídio: uma breve história

Imagem da Internet
A idéia do termo “suicídio” perpassa por muitos anos ao longo da história e este texto tem o cunho de apenas trazer uma breve curiosidade da história do suicídio. Segundo Szasz (2002) apud NETTO (2013, p.15),

[...] usamos a palavra ‘suicídio’ para expressar duas ideias bastante diferentes: por um lado, com ela descrevemos uma maneira de morrer; ou seja; tirar a própria vida, voluntária e deliberadamente; por outro lado, no lugar de utilizamos para condenar a ação, ou seja, para qualificar o suicídio de pecaminoso, criminoso, irracional, injustificado... em uma palavra, mal. (SZASZ, 2002, p. 21 – grifos no original, apud NETTO 2013, p.15).

Para Netto (2013, p. 15) é interessante pensarmos que, nessa passagem final, Szasz faz uma brevíssima síntese de como o suicídio foi visto historicamente, desde a época que, entre os antigos, não existia necessariamente uma pejoração em relação à morte voluntária (a palavra suicídio vai surgir por volta do século XII, segundo os dados até então disponíveis), o que havia eram formas de se descrever o ato. É principalmente a partir de Agostinho de Hipona (séc. V), também chamado por alguns de Santo Agostinho, que a morte de si passa a ter uma conotação pecaminosa.

Posteriormente, ainda na Idade Média, passa a ser compreendida como crime, porque lesava os interesses da Coroa: aqueles que se matavam tinham seus bens confiscados pela Coroa, em detrimento de suas famílias, e os cadáveres eram penalizados.

Ainda segundo Netto (2013, p. 15) ao final da Idade Média, com a separação entre a Coroa e a Igreja, o poder médico passa a ocupar um lugar privilegiado no controle da sociedade, de maneira que, a partir de então, são os “médicos” que definem a negatividade da morte voluntária, deslocando o fenômeno do pecado à patologia e qualificando-o como loucura. Assim, a morte voluntária foi se constituindo como um fenômeno que tem características específicas, em momentos históricos distintos.

  
Referência

Conselho Federal de Psicologia. O suicídio e os desafios para a psicologia. 1ª ed. Brasília: CFP, 2013. 152 p.




quinta-feira, 26 de novembro de 2015

"Somos todos anjos de uma asa só e precisamos nos abraçar para alçar vôo"

 Quando me ocorre de ter que enterrar alguma quimera (não a ultima, que ainda guardo muitas), busco auto-socorro na sabedoria do velho Cubas: “(...) antes cair das nuvens, que de um terceiro andar”.
Desde que tomei ciência da máxima, ainda adolescente, ela nunca me saiu da cabeça, e, sem escolha, a levo pela vida, utilizando-a como uma espécie de energético diante de alguma situação desanimadora.

Em que pese eu ter desenvolvido tanta empatia pelo aludido adágio, ele, como todos os outros, não encerra uma verdade absoluta, mas apenas um mero ponto de vista (majoritário, creio eu). Seguramente, há quem o descarte.

 O que dizer desses suicidas que saltam das janelas, dos telhados e das pontes? Eles não suportam cair das nuvens apenas, e, diante de tal hipótese, optam pela concretude de uma queda real, no sentido mais denotativo e doído que a expressão pode ter. 

 Que mistério está na gênese desses comportamentos tão radicalmente diferentes? A ingratidão da pessoa amada, por exemplo, leva alguns a efêmeras lamentações, mas, diante da irreversibilidade das situações e das dores, seguem em frente; outros, vejam só, preferem despencar dos telhados e janelas, e, para os que têm fé cristã, é possível considerar que preferem cair do céu diretinho para o inferno, haja vista que, segundo professam os religiosos, não há lugar nas alturas para os suicidas.

 Penso que, se alguma vez estivemos nas nuvens, é porque somos todos alados. A diferença está apenas no uso que se faz do acessório: uns, a exemplo do finado Cubas, sabem que as asas que elevam às alturas, caso seja necessário, podem prover uma confortável aterrissagem; outros, por alguma razão, desconhecem as regras aeronáuticas e, infelizmente, não realizam os procedimentos de pouso tão necessários quando os ventos da vida dissipam nossas nuvens. A esses não resta nenhuma alternativa, apenas caem violentamente. Isso não é escolha, é falta de recursos técnicos!
Sim, temos todos os poderes de vôo (para cima e para baixo)! Por que, então, alguns não desenvolvem a suficiente sabedoria para utilizá-los em sua plenitude? 

 Enquanto não se descobre a resposta, o importante é uma alternativa para evitar as quedas: Impedi-los de voar? Cruzes! Quem suportaria viver assim?

 Vamos seguir a receita do poetinha gaúcho, vamos mantê-los voando quando só lhes restar a queda:
“Somos todos anjos de uma asa só e precisamos nos abraçar para alçar vôo.” (Mário Quintana)

Texto original de Luciano Olavo da Silva é formado em Direito e funcionário do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) em Porto Velho - Rondônia. Tem feito algumas incursões na literatura e na produção de eventos culturais
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http://www.abelsidney.pro.br/prevenir/texto11.html