Quando me ocorre de ter que enterrar alguma
quimera (não a ultima, que ainda guardo muitas), busco auto-socorro na sabedoria
do velho Cubas: “(...) antes cair das nuvens, que de um terceiro andar”.
Desde que tomei ciência da máxima, ainda adolescente, ela nunca me saiu da cabeça, e, sem escolha, a levo pela vida, utilizando-a como uma espécie de energético diante de alguma situação desanimadora.
Em que pese eu ter desenvolvido tanta empatia pelo aludido adágio, ele, como todos os outros, não encerra uma verdade absoluta, mas apenas um mero ponto de vista (majoritário, creio eu). Seguramente, há quem o descarte.
Desde que tomei ciência da máxima, ainda adolescente, ela nunca me saiu da cabeça, e, sem escolha, a levo pela vida, utilizando-a como uma espécie de energético diante de alguma situação desanimadora.
Em que pese eu ter desenvolvido tanta empatia pelo aludido adágio, ele, como todos os outros, não encerra uma verdade absoluta, mas apenas um mero ponto de vista (majoritário, creio eu). Seguramente, há quem o descarte.
O que dizer desses suicidas que saltam das
janelas, dos telhados e das pontes? Eles não suportam cair das nuvens apenas,
e, diante de tal hipótese, optam pela concretude de uma queda real, no sentido
mais denotativo e doído que a expressão pode ter.
Que mistério está na gênese desses
comportamentos tão radicalmente diferentes? A ingratidão da pessoa amada, por
exemplo, leva alguns a efêmeras lamentações, mas, diante da irreversibilidade
das situações e das dores, seguem em frente; outros, vejam só, preferem despencar
dos telhados e janelas, e, para os que têm fé cristã, é possível considerar que
preferem cair do céu diretinho para o inferno, haja vista que, segundo
professam os religiosos, não há lugar nas alturas para os suicidas.
Penso que, se alguma vez estivemos nas
nuvens, é porque somos todos alados. A diferença está apenas no uso que se faz
do acessório: uns, a exemplo do finado Cubas, sabem que as asas que elevam às
alturas, caso seja necessário, podem prover uma confortável aterrissagem;
outros, por alguma razão, desconhecem as regras aeronáuticas e, infelizmente,
não realizam os procedimentos de pouso tão necessários quando os ventos da vida
dissipam nossas nuvens. A esses não resta nenhuma alternativa, apenas caem
violentamente. Isso não é escolha, é falta de recursos técnicos!
Sim, temos todos os poderes de vôo (para cima e para baixo)! Por que, então, alguns não desenvolvem a suficiente sabedoria para utilizá-los em sua plenitude?
Sim, temos todos os poderes de vôo (para cima e para baixo)! Por que, então, alguns não desenvolvem a suficiente sabedoria para utilizá-los em sua plenitude?
Enquanto não se descobre a resposta, o
importante é uma alternativa para evitar as quedas: Impedi-los de voar? Cruzes!
Quem suportaria viver assim?
Vamos seguir a receita do poetinha gaúcho,
vamos mantê-los voando quando só lhes restar a queda:
“Somos todos anjos de uma asa só e precisamos nos abraçar para alçar vôo.” (Mário Quintana)
“Somos todos anjos de uma asa só e precisamos nos abraçar para alçar vôo.” (Mário Quintana)
Texto original de Luciano Olavo da Silva é formado em Direito e funcionário do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) em Porto Velho - Rondônia. Tem feito algumas incursões na literatura e na produção de eventos culturais
Disponível em http://www.abelsidney.pro.br/prevenir/texto11.html
Lindo texto!
ResponderExcluirMe fez refletir que não seja uma questão de desconhecimento dos recursos de pouso seguro, senão facilmente cairíamos no campo da razão... mas quem sabe, a queda real, violenta, concreta, não seria justamente o aparecimento em ato das descontinuidades sofridas desde que nascidos, frente a ausência de internalizaçao dos recursos psíquicos metabolizantes... Assim, o abraço de Quintana faz todo o sentido! Representa as funções antitraumaticas (holding, handling, reverie, continencia psiquica) que toda relação de amor e confiança deixa de legado, e que inauguram as capacidades metabólicas quando sé é atacado por ventanias e tempestades.