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sábado, 21 de novembro de 2015

Falar sobre suicídio não encoraja o ato?


Depende dos aspectos que se aborda na conversa. Falar sobre os sentimentos que cercam o suicídio pode levar ao entendimento e reduzir grandemente a angústia imediata de uma pessoa suicida. Não é um erro perguntar-se a alguém se equaciona a ideia de suicídio como uma opção válida se suspeita que essa pessoa não está a conseguir lidar com o seu tormento. Se a pessoa o confessa, pode ser um grande alívio ver que outra pessoa tem uma ideia de como se sente.
Esta pode ser uma pergunta difícil, pelo que aqui se deixam algumas abordagens possíveis: 
 "Nesse teu sofrimento, estarás a considerar o suicídio?"
"Parece-me muita coisa para ser suportada; pensaste no suicídio como forma de fuga?"
"Toda a dor que sentes fez alguma vez pensar em magoares-te?"
"Alguma vez pensaste em deixar tudo?"
O modo mais apropriado de abordar o assunto difere de acordo com a situação, e com a confiança entre as pessoas envolvidas. É, também, importante ter em consideração a totalidade da resposta dada pois a pessoa angustiada tende a dizer "não", mesmo que queira dizer "sim". A pessoa que não se sente atraída pelo comportamento suicidário é, normalmente, capaz de transmitir um “não” seguro prosseguindo a conversa apresentando os motivos que a levam a querer viver. Também pode ser útil perguntar-lhe o que faria se estivesse a considerar, seriamente, cometer suicídio, para o caso de, futuramente, apresentar comportamentos suicidários ou caso os tenha e não se sinta à vontade para os revelar. 
 Falar exclusivamente sobre formas de como cometer suicídio pode dar ideias às pessoas que tenham comportamentos suicidários, mas que ainda não pensaram em como os concretizar. Os relatos de imprensa que se concentram unicamente nos métodos usados e ignoram o panorama emotivo que está por detrás do ato podem tender a encorajar à imitação de métodos suicidas. 

Artigo original disponível em: http://www.spsuicidologia.pt/sobre-o-suicidio/questoes-frequentes/32-falar-sobre-suicidio-nao-encoraja-o-acto


 

terça-feira, 17 de novembro de 2015

O poder da resiliência e da capacidade de adaptação

 "A pessoa pode estar em risco de cometer suicídio , mas, se tiver alta resiliência provavelmente não o fará. (...) A resiliência é um construto   psicológico , tal como a crença do indivíduo na capacidade de superar a adversidade e adaptação. Os fatores que envolvem a resiliência alta incluem a capacidade de fazer avaliações positivas da vida e de sentir controle dessas circunstâncias. Além disso, a capacidade de solucionar problemas, altos níveis de autoestima, confiança na própria capacidade de solucionar problemas,  sentimentos gerais de apoio social e apoio da família, pessoas significativas, apego seguro e crenças sobre o suicídio parecem amortecer o risco de suicídio. As crenças religiosas também podem desempenhar um papel na resiliência, mas há pouquíssima pesquisa até agora para documentar essa relação. "

Referências:


 WHITBOURNE, Susan Kraus;  Halgin, Richard P. Psicopatologia: perspectivas clinicas dos transtornos psicológicos. 7ª Ed. Porto Alegre: Artemed, 2015.



Planejamento suicida entre adolescentes escolares: prevalência e fatores associados

Imagem da Internet
O suicídio constitui-se num importante problema de saúde pública. Está entre as dez principais causas de morte na população mundial em todas as faixas etárias, ocupando o terceiro lugar no grupo com idade entre 15 e 34 anos. As taxas variam em função do contexto social, gênero, meios utilizados e faixa etária. Entre adolescentes, os comportamentos de risco, em interação com fatores sociais e ambientais, têm gerado um aumento de mortes prematuras.

O comportamento suicida costuma ser concebido como variando em um continuum que se inicia com idéias de suicídio, ou seja, pensamentos de acabar com a própria vida. Se o processo avança, surge o planejamento suicida, que é a etapa em que o sujeito estabelece quando, onde e como fará para levar avante a conduta de autodestruição. A partir daí, poderá ocorrer a tentativa de suicídio, resultando ou não em morte.

A escola tem papel estratégico para a promoção e proteção da saúde dos alunos, pois é o local onde são reproduzidos os padrões de comportamentos e relacionamentos  que podem por em risco a saúde dos jovens. Nesse sentido, acredita-se que se a escola possa ser um local privilegiado para a identificação precoce de situações problemáticas, já que aspectos relacionados ao meio familiar, grupo de amigos e escola são de extrema importância para a qualidade de vida do adolescente.

A variável sexo associou-se ao desfecho, mostrando maior prevalência de planejamento suicida entre jovens do sexo feminino. Esse achado é corroborado por outros autores sobre o tema, que verificaram que as meninas planejam e tentam mais; no entanto são os meninos que efetivam o suicídio. Uma das possíveis explicações refere-se à maior prevalência de depressão e tendência à introspecção entre as meninas, enquanto os meninos tendem mais à ação. Esse achado vai ao encontro de Wermeiren et al. que referem que a exposição à violência, os sentimentos depressivos e o risco de suicídio em adolescentes apresentam importantes diferenças entre os gêneros.

O consumo abusivo de álcool, dificuldade para dormir e preocupação com a imagem corporal mostraram-se associados ao desfecho somente na análise univariada, perdendo significância quando passaram a ser controlados pelas variáveis sentimento de solidão e tristeza. A presença de sintomas depressivos é um importante fator de risco para comportamento suicida, situando-se como um dos mais fortes preditores dessa condição. Esse dado é relevante, particularmente para a prevenção do problema, visto que a depressão pode passar despercebida por familiares, professores e profissionais da saúde, porque, na adolescência, esse transtorno muitas vezes se manifesta por intermédio de queixas somáticas, problemas no âmbito sexual, baixo rendimento escolar e problemas de conduta, em vez de humor deprimido.
  
Referência:
BAGGIO L; PALAZZO S. L; AERTS C. G. D. Planejamento suicida entre adolescentes escolares: prevalência e fatores associados, Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 25(1):142-150, jan, 2009.