Para
a Psicanálise freudiana, o suicídio está relacionado ao desejo do indivíduo, à
angústia e a fatores psíquicos associados. SENNA; LEITE; DUARTE; PLATON; MARTINS;
E SILVA; FERREIRA; BIAGI; COELHO; PINTO apud FREUD 1990, em sua obra Luto e
Melancolia, afirma que um indivíduo só seria capaz de atentar contra a própria
vida, caso renunciasse à autopreservação, e que o narcisismo deveria ser
considerado como um dos fatores desencadeantes de tal ato. No mesmo estudo, ele
concebeu a existência de apenas dois instintos básicos: Eros (instinto de vida,
do amor) e Tanatos (instinto de morte, destrutivo). A atuação concomitante e
conflitante dos dois instintos basais dá procedência a toda abundância de
fenômenos da vida, inclusive o do ato suicida. A única maneira do instinto de
vida ceder de forma a induzir o indivíduo a buscar a morte seria que este
entrasse em um estado melancólico. Para SENNA; LEITE; DUARTE; PLATON; MARTINS;
E SILVA; FERREIRA; BIAGI; COELHO; PINTO apud Freud 1990, a análise da
melancolia mostra que o Ego a instância psíquica que põe o indivíduo em contato
com a realidade só pode se matar se puder tratar a si mesmo como objeto, ou
seja, se for capaz de dirigir contra si mesmo a hostilidade contra um objeto do
mundo externo. Na melancolia, bem como em outros distúrbios narcísicos, emerge
um traço peculiar na vida emocional deste sujeito: a ambivalência. A melancolia
apresenta um objeto narcísico que faz parte do indivíduo e a perda desse objeto
configura a perda de si mesmo. Assim, o melancólico pode se destruir com o
objetivo de não ter de confrontar com a falta do objeto e, por consequência, de
si próprio. Concluindo as ideias acima, através da teoria freudiana, pode-se perceber
que tanto no luto quanto na melancolia o Ego adquire a função de preservar o
objeto perdido, inicialmente identificando-se com ele e após o incorporando. No
luto normal há uma percepção gradual da não existência do objeto amado na
realidade e isto é compensado através da instituição de um novo objeto amoroso
(re-investimento). Já na melancolia (luto patológico), existe a presença de
culpa e hostilidade muito intensas de forma que o objeto torna-se fantasioso, morto
pelo indivíduo. Desta forma, o objeto torna-se um perseguidor interno que exige
vingança.
SENNA; LEITE; DUARTE; PLATON;
MARTINS; E SILVA; FERREIRA; BIAGI; COELHO; PINTO apud MENNINGER 1970, enxerga
que todo ato agressivo ou destrutivo contra a própria vida é uma manifestação
do instinto de morte contra o Eu. Para ele, a prática suicida pode ter origem
em diversos temas, inclusive aqueles que se referem ao meio ambiente, ou seja,
a não elaboração interna de algumas percepções e vivências. Este é inclusive o
fator mais relevante para desencadear o comportamento suicida.
SENNA; LEITE; DUARTE; PLATON;
MARTINS; E SILVA; FERREIRA; BIAGI; COELHO; PINTO apud FREUD 1990, a pessoa
desde o momento em que nasce até seu “último suspiro” vivencia perdas, e isso
pode induzir ao luto e à melancolia. Supõe que, para o suicida, as reações
consigo mesmo ou com o mundo externo frente a essas perdas, se deram em algum
aspecto de maneira errônea. SENNA; LEITE; DUARTE; PLATON; MARTINS; E SILVA; FERREIRA;
BIAGI; COELHO; PINTO apud FREUD, afirma que a maior expressão da pulsão de
morte seria a agressividade; quando esta não é dirigida ao meio pode voltar-se
contra o sujeito e culminar no ato suicida. O ser humano é capaz de abster-se
da auto-conservação para privilegiar a auto-estima (narcisismo). Outro aspecto
considerável seria o caso do sujeito se encontrar em posição de desprestígio,
sentindo-se com sua auto-estima rebaixada. Em ambas as ocorrências, seria
possível que o ato suicida viesse a ocorrer. Outra hipótese, ainda formulada
por Freud, é de que existe um instinto de morte em que a meta é levar o
indivíduo para um estado de calma ou serenidade, caracterizado pela
não-existência. Quando este instinto torna-se mais forte que o instinto de
vida, pode levar ao ato suicida, sendo, o equilíbrio entre os dois impulsos que
mantém o controle da vida. SENNA; LEITE; DUARTE; PLATON; MARTINS; E SILVA; FERREIRA;
BIAGI; COELHO; PINTO apud HOLMES, 2001.
Abordagem Fenomenológica
A
Fenomenologia põe em questão, o próprio modo de ser do homem, sua problematicidade
e a busca de resoluções para essa questão do ser, do existir, que jamais deixará
de ser complicada para o homem enquanto ele viver. Algumas correntes abordam o
suicídio como um ato isolado, porém através da fenomenologia é visto em uma perspectiva
mais abrangente, que engloba as condições existenciais do indivíduo; é preciso
compreender a existência em sua totalidade, respeitar o homem enquanto homem, alguém
possuidor de sentimentos, sensações e emoções.
Podemos dizer segundo SENNA;
LEITE; DUARTE; PLATON; MARTINS; E SILVA; FERREIRA; BIAGI; COELHO; PINTO apud CRITELLI,
1996 que habitamos um mundo, por muitas vezes inóspito; o homem então cria um
mundo artificial no qual se demonstra difícil de se abrigar e acolher, sendo
assim, para o homem “Ser-no-mundo” como os homens é habitar a inospitalidade. Por
ter que ser-no-mundo, o indivíduo se vê “condenado” a cuidar-se, por ser o ser
das possibilidades, o dasein (condição de ser do indivíduo que possui inúmeras
possibilidades) escolhe, mas não há caminhos certos, existem diferentes
caminhos à serem escolhidos. E esses caminhos são “construídos” pelo próprio
sujeito em seu caminhar. Essa condição, segundo SENNA; LEITE; DUARTE; PLATON; MARTINS;
E SILVA; FERREIRA; BIAGI; COELHO; PINTO apud HEIDEGGER 1987, embora
libertadora, torna o viver humano um constante angustiar-se por causa da
difícil tarefa de ser imerso sempre em inúmeras possibilidades. Afirma também
que, quando o homem olha para o futuro, ele vislumbra a única possibilidade que
é certa: a possibilidade de não-mais-ser-aí. Dessa forma, o não-ser passa a ser
parte importante da constituição do indivíduo, enquanto o ser-aí passa a adquirir
presente, passado e futuro e a fazer sua história. Porém a morte não é só um
limite colocado num horizonte marcado e distante, ela pode acontecer a qualquer
instante. Quando o homem nasce, ele já está sujeito e pré destinado a morrer.
Poucos
temas provocam tanta polêmica entre os estudiosos de ciências humanas quanto às
causas das tentativas de suicídio. Embora seja indevida qualquer generalização,
grande parte dos casos corresponde a situações de vida insuportáveis.
SENNA; LEITE; DUARTE; PLATON;
MARTINS; E SILVA; FERREIRA; BIAGI; COELHO; PINTO apud CAMON 1992 acredita que a
morte é a ocorrência concreta da existência humana. Sendo assim, podemos dizer
que, para os indivíduos tentadores de suicídio, a morte apresenta-se como única
alternativa para o sofrimento, afinal os mesmos apresentam uma grande dificuldade
em aguentar o peso da própria vida e da própria condição humana, o que gera
muita angústia e solidão. Para SENNA; LEITE; DUARTE; PLATON; MARTINS; E SILVA; FERREIRA;
BIAGI; COELHO; PINTO apud CAMON, 1992, p.22, o tentador de suicídio, em
primeira instância, acredita ser um indivíduo que escolhe, mesmo que essa
escolha o leve à morte, sendo que a maior parte deles possui uma opção original
onde “viver é mais degradante do que morrer”.
Quando
se observa o suicídio como alternativa para devaneios e sofrimentos
existenciais, algumas pessoas não estão necessariamente buscando a morte. O
indivíduo que busca o suicídio, normalmente não tem o conceito concreto de
morte, de desaparecimento total. Por muitas vezes, esses tentadores possuem uma
crença de vida pós-morte, buscando assim um possível paraíso, a reencarnação. A
morte surge
como consequência dos
seus atos, não como busca deliberada. Porém segundo SENNA; LEITE; DUARTE; PLATON;
MARTINS; E SILVA; FERREIRA; BIAGI; COELHO; PINTO apud CAMON, 1992, deve-se
ressaltar que o homem é responsável pela sua autodestruição, de forma consciente
e real. Afirma também que o tentador de suicídio possui uma vivência tóxica do
mundo e essa vivência implica em um desejo de morte, ou de a todo o momento
estar suicidando-se. SENNA; LEITE; DUARTE; PLATON; MARTINS; E SILVA; FERREIRA; BIAGI;
COELHO; PINTO apud, apoiado nos pressupostos heidggerianos, acredita que o
homem deva refletir acerca do sentido de sua vida, ou do sentido que lhe foge,
para adquirir um modo de viver mais “apropriado” e mais “autêntico”. Nessa
visão, os momentos de confronto com o absurdo só estabeleceriam o desejo de
viver quando ajudassem a pessoa a ver um sentido maior em estados de
sofrimento.
Abordagem Comportamental
A
teoria comportamental representa um dos eixos centrais da psicologia. Dentro
dos seus pressupostos teóricos e epistemológicos, é possível identificar
mecanismos de compreensão dos mais diferentes fenômenos psíquicos sociais. Conforme
SENNA; LEITE; DUARTE; PLATON; MARTINS; E SILVA; FERREIRA; BIAGI; COELHO; PINTO
apud SKINNER, 1998, “A ciência do Comportamento tem como interesse principal
analisar as causas do comportamento humano, ou seja, saber por que os homens se
comportam de determinadas maneiras”. Assim, na presente teoria, pretende-se analisar
o comportamento suicida e aspectos a ele relacionados. Por acreditar que o
comportamento se desenvolve em uma relação funcional, a teoria comportamental
não trabalha com categorias, e sim com a compreensão de que um comportamento se
dá na análise funcional.
Entende-se conforme SENNA; LEITE; DUARTE; PLATON;
MARTINS; E SILVA; FERREIRA; BIAGI; COELHO; PINTO apud SKINNER 1998, p.38, a
análise funcional como: “As variáveis externas, das quais o comportamento é função,
dão margem ao que pode ser chamado de análise causal ou funcional. Tentamos
prever e controlar o comportamento de um organismo individual ”. Quando se analisa um comportamento, a teoria,
pautada na análise funcional, desenvolve critérios que perpassam extensa sistemática
de sua metodologia. O comportamento para Skinner está sob uma série de
contingências. Para SENNA; LEITE; DUARTE; PLATON; MARTINS; E SILVA; FERREIRA; BIAGI;
COELHO; PINTO apud SKINNER< 1978, dois tipos de estímulos que agem sobre o
comportamento: “o estímulo que aumenta a probabilidade futura de emissão da
resposta que o antecedeu é chamado de reforço, enquanto aquele que diminui a
probabilidade futura de ocorrência desta resposta é conhecido como estímulo punitivo”.
Através da consequência da resposta do comportamento, o meio ambiente os seleciona
de forma dinâmica; havendo novas alterações no ambiente, o comportamento poderá
retroagir de forma a se modificar e se adaptar à nova situação. A análise
comportamental compreende o comportamento subtendido em três dimensões que o
influenciam fortemente: os aspectos fisiológicos, ontogenéticos e culturais. Além dos aspectos filogenéticos,
ontogenéticos, justifica-se a análise das contingências atuais que são
responsáveis pela manutenção do comportamento se elas forem associadas à
análise (histórica) das contingências selecionadas. Por isso na análise
funcional do comportamento suicida acredita-se que a história individual de cada
sujeito tem uma forte determinação no seu repertório comportamental presente. Assim,
pode-se compreender o comportamento suicida como uma categoria comportamental,
dotada de especificidade comportamental, constituída pelas diversas instâncias contingenciais,
que, através de determinados estímulos discriminativos, modelam o comportamento
suicida, no qual os estímulos que preponderam são a punição e o reforço
negativo. Conforme SENNA; LEITE; DUARTE; PLATON; MARTINS; E SILVA; FERREIRA; BIAGI;
COELHO; PINTO apud SIDMAN 1995, p. 132, diz que “o suicídio é a fuga das garras
de necessidades e coação repentinamente esmagadora, ou uma vida dominada por
reforçamento negativo e punição”. Desta forma, a teoria comportamental oferece
um instrumental teórico que, dentro das suas possibilidades, permite a
compreensão de alguns relevantes aspectos para o fenômeno do suicídio.
Referência Bibliográfica
SENNA, Ana Cristina M.
de B; LEITE, André Félix Portela; DUARTE ,Cíntia Pérez; PLATON, Débora; MARTINS
,Julia Ghinaldini; E SILVA ,Luciana Coltri; FERREIRA Mérari Jizar L; BIAGI, Nathália;
COELHO, Prof. Dra. Maria Renata Machado Vaz Pinto. Suicídio: Diversos olhares da
Psicologia. Boletim de Iniciação Científica em Psicologia – 2004, 5(1): 77-92. Disponível
em: <http://www.mackenzie.com.br/fileadmin/Graduacao/CCBS/Cursos/Psicologia/boletins/5/SUICIDIO_DIVERSOS_OLHARES_DA_PSICOLOGIA.pdf>.
Acesso em 29 de Outubro de 2015.