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sexta-feira, 30 de outubro de 2015

As maiores perdas podem ser fruto de nossa própria negligência





Uma das melhores formas de ajudar uma pessoa que tentou ou está  considerando uma tentativa de suicídio é realmente ouvindo e desenvolvendo sensibilidade e empatia para com seu  sofrimento.
Em geral quando o indivíduo quando chega ao ponto de  considerar um gesto suicida  provavelmente já tentou diversos tipos de recursos  sendo que  a tentativa de suicídio como último ato representa  um grito de socorro. Nesse momento faz-se  necessário parar e pensar o que a levou a se comunicar desta forma, o que  está acontecendo na vida dessa pessoa assim como  na sua necessidade de ajuda e  de apoio.
O  comportamento de desqualificação da subjetividade ou dos sentimentos do suicida pode recair como  uma forma  extremamente negativa causando ainda mais  ressentimento e desesperança. Cobranças e posicionamentos  através da fala de que a pessoa deveria estar bem já que possui “inúmeras coisas boas na sua vida” ou “ que não tem motivos para ficar assim” ou ainda  “ que tem pessoas em situação muito pior”, podem  servir como um gatilho para que uma nova tentativa ocorra.  Quando o contrário acontece e estas pessoas se sentem ouvidas,  a  tendência é que ocorra  certo abrandamento do  sofrimento  e até  mesmo certo conforto psíquico  mesmo que temporário.
Com a escuta verdadeira desse sofrimento  pode-se criar  uma condição que tenha o capacidade de mudar  radicalmente a vida dessa pessoa.   Se quem sofre por si só não tem forças para procurar auxílio, estenda suas mãos e ajude-a a dar um primeiro passo  lembrando-se  sempre que  é possível salvar uma vida.
Não subestime o sofrimento de alguém.  Não seja negligente. Não seja omisso. Seja apenas humano!



Referências:

Conselho Federal de Psicologia. O Suicídio e os desafios para a psicologia. Brasília: CFP, 2013.

Manual disponível em:  < https:cfp.org.br/wp-content/.../2013/12/Suicidio-FINAL-revisao61.pdf>





quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Suicídio: Diversos olhares da psicologia


Abordagem psicanalítica
Para a Psicanálise freudiana, o suicídio está relacionado ao desejo do indivíduo, à angústia e a fatores psíquicos associados. SENNA; LEITE; DUARTE; PLATON; MARTINS; E SILVA; FERREIRA; BIAGI; COELHO; PINTO apud FREUD 1990, em sua obra Luto e Melancolia, afirma que um indivíduo só seria capaz de atentar contra a própria vida, caso renunciasse à autopreservação, e que o narcisismo deveria ser considerado como um dos fatores desencadeantes de tal ato. No mesmo estudo, ele concebeu a existência de apenas dois instintos básicos: Eros (instinto de vida, do amor) e Tanatos (instinto de morte, destrutivo). A atuação concomitante e conflitante dos dois instintos basais dá procedência a toda abundância de fenômenos da vida, inclusive o do ato suicida. A única maneira do instinto de vida ceder de forma a induzir o indivíduo a buscar a morte seria que este entrasse em um estado melancólico. Para SENNA; LEITE; DUARTE; PLATON; MARTINS; E SILVA; FERREIRA; BIAGI; COELHO; PINTO apud Freud 1990, a análise da melancolia mostra que o Ego a instância psíquica que põe o indivíduo em contato com a realidade só pode se matar se puder tratar a si mesmo como objeto, ou seja, se for capaz de dirigir contra si mesmo a hostilidade contra um objeto do mundo externo. Na melancolia, bem como em outros distúrbios narcísicos, emerge um traço peculiar na vida emocional deste sujeito: a ambivalência. A melancolia apresenta um objeto narcísico que faz parte do indivíduo e a perda desse objeto configura a perda de si mesmo. Assim, o melancólico pode se destruir com o objetivo de não ter de confrontar com a falta do objeto e, por consequência, de si próprio. Concluindo as ideias acima, através da teoria freudiana, pode-se perceber que tanto no luto quanto na melancolia o Ego adquire a função de preservar o objeto perdido, inicialmente identificando-se com ele e após o incorporando. No luto normal há uma percepção gradual da não existência do objeto amado na realidade e isto é compensado através da instituição de um novo objeto amoroso (re-investimento). Já na melancolia (luto patológico), existe a presença de culpa e hostilidade muito intensas de forma que o objeto torna-se fantasioso, morto pelo indivíduo. Desta forma, o objeto torna-se um perseguidor interno que exige vingança.
SENNA; LEITE; DUARTE; PLATON; MARTINS; E SILVA; FERREIRA; BIAGI; COELHO; PINTO apud MENNINGER 1970, enxerga que todo ato agressivo ou destrutivo contra a própria vida é uma manifestação do instinto de morte contra o Eu. Para ele, a prática suicida pode ter origem em diversos temas, inclusive aqueles que se referem ao meio ambiente, ou seja, a não elaboração interna de algumas percepções e vivências. Este é inclusive o fator mais relevante para desencadear o comportamento suicida.
SENNA; LEITE; DUARTE; PLATON; MARTINS; E SILVA; FERREIRA; BIAGI; COELHO; PINTO apud FREUD 1990, a pessoa desde o momento em que nasce até seu “último suspiro” vivencia perdas, e isso pode induzir ao luto e à melancolia. Supõe que, para o suicida, as reações consigo mesmo ou com o mundo externo frente a essas perdas, se deram em algum aspecto de maneira errônea. SENNA; LEITE; DUARTE; PLATON; MARTINS; E SILVA; FERREIRA; BIAGI; COELHO; PINTO apud FREUD, afirma que a maior expressão da pulsão de morte seria a agressividade; quando esta não é dirigida ao meio pode voltar-se contra o sujeito e culminar no ato suicida. O ser humano é capaz de abster-se da auto-conservação para privilegiar a auto-estima (narcisismo). Outro aspecto considerável seria o caso do sujeito se encontrar em posição de desprestígio, sentindo-se com sua auto-estima rebaixada. Em ambas as ocorrências, seria possível que o ato suicida viesse a ocorrer. Outra hipótese, ainda formulada por Freud, é de que existe um instinto de morte em que a meta é levar o indivíduo para um estado de calma ou serenidade, caracterizado pela não-existência. Quando este instinto torna-se mais forte que o instinto de vida, pode levar ao ato suicida, sendo, o equilíbrio entre os dois impulsos que mantém o controle da vida. SENNA; LEITE; DUARTE; PLATON; MARTINS; E SILVA; FERREIRA; BIAGI; COELHO; PINTO apud HOLMES, 2001.

Abordagem Fenomenológica
A Fenomenologia põe em questão, o próprio modo de ser do homem, sua problematicidade e a busca de resoluções para essa questão do ser, do existir, que jamais deixará de ser complicada para o homem enquanto ele viver. Algumas correntes abordam o suicídio como um ato isolado, porém através da fenomenologia é visto em uma perspectiva mais abrangente, que engloba as condições existenciais do indivíduo; é preciso compreender a existência em sua totalidade, respeitar o homem enquanto homem, alguém possuidor de sentimentos, sensações e emoções.
Podemos dizer segundo SENNA; LEITE; DUARTE; PLATON; MARTINS; E SILVA; FERREIRA; BIAGI; COELHO; PINTO apud CRITELLI, 1996 que habitamos um mundo, por muitas vezes inóspito; o homem então cria um mundo artificial no qual se demonstra difícil de se abrigar e acolher, sendo assim, para o homem “Ser-no-mundo” como os homens é habitar a inospitalidade. Por ter que ser-no-mundo, o indivíduo se vê “condenado” a cuidar-se, por ser o ser das possibilidades, o dasein (condição de ser do indivíduo que possui inúmeras possibilidades) escolhe, mas não há caminhos certos, existem diferentes caminhos à serem escolhidos. E esses caminhos são “construídos” pelo próprio sujeito em seu caminhar. Essa condição, segundo SENNA; LEITE; DUARTE; PLATON; MARTINS; E SILVA; FERREIRA; BIAGI; COELHO; PINTO apud HEIDEGGER 1987, embora libertadora, torna o viver humano um constante angustiar-se por causa da difícil tarefa de ser imerso sempre em inúmeras possibilidades. Afirma também que, quando o homem olha para o futuro, ele vislumbra a única possibilidade que é certa: a possibilidade de não-mais-ser-aí. Dessa forma, o não-ser passa a ser parte importante da constituição do indivíduo, enquanto o ser-aí passa a adquirir presente, passado e futuro e a fazer sua história. Porém a morte não é só um limite colocado num horizonte marcado e distante, ela pode acontecer a qualquer instante. Quando o homem nasce, ele já está sujeito e pré destinado a morrer.
Poucos temas provocam tanta polêmica entre os estudiosos de ciências humanas quanto às causas das tentativas de suicídio. Embora seja indevida qualquer generalização, grande parte dos casos corresponde a situações de vida insuportáveis.
SENNA; LEITE; DUARTE; PLATON; MARTINS; E SILVA; FERREIRA; BIAGI; COELHO; PINTO apud CAMON 1992 acredita que a morte é a ocorrência concreta da existência humana. Sendo assim, podemos dizer que, para os indivíduos tentadores de suicídio, a morte apresenta-se como única alternativa para o sofrimento, afinal os mesmos apresentam uma grande dificuldade em aguentar o peso da própria vida e da própria condição humana, o que gera muita angústia e solidão. Para SENNA; LEITE; DUARTE; PLATON; MARTINS; E SILVA; FERREIRA; BIAGI; COELHO; PINTO apud CAMON, 1992, p.22, o tentador de suicídio, em primeira instância, acredita ser um indivíduo que escolhe, mesmo que essa escolha o leve à morte, sendo que a maior parte deles possui uma opção original onde “viver é mais degradante do que morrer”.
Quando se observa o suicídio como alternativa para devaneios e sofrimentos existenciais, algumas pessoas não estão necessariamente buscando a morte. O indivíduo que busca o suicídio, normalmente não tem o conceito concreto de morte, de desaparecimento total. Por muitas vezes, esses tentadores possuem uma crença de vida pós-morte, buscando assim um possível paraíso, a reencarnação. A morte surge
como consequência dos seus atos, não como busca deliberada. Porém segundo SENNA; LEITE; DUARTE; PLATON; MARTINS; E SILVA; FERREIRA; BIAGI; COELHO; PINTO apud CAMON, 1992, deve-se ressaltar que o homem é responsável pela sua autodestruição, de forma consciente e real. Afirma também que o tentador de suicídio possui uma vivência tóxica do mundo e essa vivência implica em um desejo de morte, ou de a todo o momento estar suicidando-se. SENNA; LEITE; DUARTE; PLATON; MARTINS; E SILVA; FERREIRA; BIAGI; COELHO; PINTO apud, apoiado nos pressupostos heidggerianos, acredita que o homem deva refletir acerca do sentido de sua vida, ou do sentido que lhe foge, para adquirir um modo de viver mais “apropriado” e mais “autêntico”. Nessa visão, os momentos de confronto com o absurdo só estabeleceriam o desejo de viver quando ajudassem a pessoa a ver um sentido maior em estados de sofrimento.

Abordagem Comportamental
A teoria comportamental representa um dos eixos centrais da psicologia. Dentro dos seus pressupostos teóricos e epistemológicos, é possível identificar mecanismos de compreensão dos mais diferentes fenômenos psíquicos sociais. Conforme SENNA; LEITE; DUARTE; PLATON; MARTINS; E SILVA; FERREIRA; BIAGI; COELHO; PINTO apud SKINNER, 1998, “A ciência do Comportamento tem como interesse principal analisar as causas do comportamento humano, ou seja, saber por que os homens se comportam de determinadas maneiras”. Assim, na presente teoria, pretende-se analisar o comportamento suicida e aspectos a ele relacionados. Por acreditar que o comportamento se desenvolve em uma relação funcional, a teoria comportamental não trabalha com categorias, e sim com a compreensão de que um comportamento se dá na análise funcional.
 Entende-se conforme SENNA; LEITE; DUARTE; PLATON; MARTINS; E SILVA; FERREIRA; BIAGI; COELHO; PINTO apud SKINNER 1998, p.38, a análise funcional como: “As variáveis externas, das quais o comportamento é função, dão margem ao que pode ser chamado de análise causal ou funcional. Tentamos prever e controlar o comportamento de um organismo individual ”.  Quando se analisa um comportamento, a teoria, pautada na análise funcional, desenvolve critérios que perpassam extensa sistemática de sua metodologia. O comportamento para Skinner está sob uma série de contingências. Para SENNA; LEITE; DUARTE; PLATON; MARTINS; E SILVA; FERREIRA; BIAGI; COELHO; PINTO apud SKINNER< 1978,  dois tipos de estímulos que agem sobre o comportamento: “o estímulo que aumenta a probabilidade futura de emissão da resposta que o antecedeu é chamado de reforço, enquanto aquele que diminui a probabilidade futura de ocorrência desta resposta é conhecido como estímulo punitivo”. Através da consequência da resposta do comportamento, o meio ambiente os seleciona de forma dinâmica; havendo novas alterações no ambiente, o comportamento poderá retroagir de forma a se modificar e se adaptar à nova situação. A análise comportamental compreende o comportamento subtendido em três dimensões que o influenciam fortemente: os aspectos fisiológicos, ontogenéticos e culturais.  Além dos aspectos filogenéticos, ontogenéticos, justifica-se a análise das contingências atuais que são responsáveis pela manutenção do comportamento se elas forem associadas à análise (histórica) das contingências selecionadas. Por isso na análise funcional do comportamento suicida acredita-se que a história individual de cada sujeito tem uma forte determinação no seu repertório comportamental presente. Assim, pode-se compreender o comportamento suicida como uma categoria comportamental, dotada de especificidade comportamental, constituída pelas diversas instâncias contingenciais, que, através de determinados estímulos discriminativos, modelam o comportamento suicida, no qual os estímulos que preponderam são a punição e o reforço negativo. Conforme SENNA; LEITE; DUARTE; PLATON; MARTINS; E SILVA; FERREIRA; BIAGI; COELHO; PINTO apud SIDMAN 1995, p. 132, diz que “o suicídio é a fuga das garras de necessidades e coação repentinamente esmagadora, ou uma vida dominada por reforçamento negativo e punição”. Desta forma, a teoria comportamental oferece um instrumental teórico que, dentro das suas possibilidades, permite a compreensão de alguns relevantes aspectos para o fenômeno do suicídio.

Referência Bibliográfica

SENNA, Ana Cristina M. de B; LEITE, André Félix Portela; DUARTE ,Cíntia Pérez; PLATON, Débora; MARTINS ,Julia Ghinaldini; E SILVA ,Luciana Coltri; FERREIRA Mérari Jizar L; BIAGI, Nathália; COELHO, Prof. Dra. Maria Renata Machado Vaz Pinto. Suicídio: Diversos olhares da Psicologia. Boletim de Iniciação Científica em Psicologia – 2004, 5(1): 77-92. Disponível em: <http://www.mackenzie.com.br/fileadmin/Graduacao/CCBS/Cursos/Psicologia/boletins/5/SUICIDIO_DIVERSOS_OLHARES_DA_PSICOLOGIA.pdf>. Acesso em 29 de Outubro de 2015.




terça-feira, 27 de outubro de 2015

A era da auto destruição: Os jovens buscam cada vez mais no suicídio uma fuga para seus sofrimentos.


Eu fiz de conta que era um dia normal. Levantei, fui à escola, voltei para casa e subi no telhado do prédio. Meu pé direito já estava no ar. Bem quando ia pular, olhei para cima. Do outro lado da rua, uma família olhava para mim da janela do seu apartamento. Havia essa menininha com o olhar fixo em mim, e ela balançou a cabeça e cobriu o rosto. Por causa dela, não pulei.” Esse é o depoimento de um jovem de 20 anos que chegou à beira do suicídio em 2009 e mudou de ideia.O relato foi postado num tópico no site Reddit sobre os usuários da rede social que tentaram se matar. No início de outubro eram quase 10 mil comentários no tópico, boa parte relatos em primeira pessoa de uma epidemia silenciosa que não para de crescer no Brasil.Segundo dados do Mapa da Violência 2014, a taxa de suicídio de jovens com idade entre 10 e 14 anos aumentou 40% no país nos últimos 10 anos. Entre os jovens com idade entre 15 e 19 anos, o crescimento foi de 33%. O Brasil é um exemplo de uma tendência que assola o mundo: o suicídio é a principal causa de morte entre jovens em um terço dos países.
Por aqui, o suicídio está atrás de homicídios e acidentes de carro, com taxas 4 e 6 vezes maiores de mortes. O problema é que o assunto ainda é um tabu — e características da adolescência, como isolamento e alterações de humor, fazem com que o comportamento suicida muitas vezes passe batido para a família.“O adolescente não tem uma visão crítica em relação ao prejuízo. Prepotência, despreocupação com o futuro e achar que aquilo não vai dar em nada os deixam vulneráveis”, diz Jair Segal, psiquiatra especialista em comportamento suicida. “Boa parte desses jovens é exposta mais precocemente a substâncias psicoativas, especialmente o álcool, usado para minimizar o sofrimento. E a sociedade está cada vez mais tolerante ao uso de álcool em todas as faixas etárias.”
O último Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), de 2013, aponta que 36% dos jovens consomem álcool de forma nociva — quatro doses ou mais em até duas horas. É um aumento de três pontos percentuais em relação há três anos, segundo o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, da Universidade Federal de São Paulo. Quando a bebida é aliada à depressão, doença que afeta quase um terço dos adolescentes, tem-se uma combinação perigosa. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a depressão é a principal causa de doença e inaptidão de adolescentes no mundo.
Outro fator apontado como uma das causas do aumento nos suicídios é o excesso de aulas, cursos e esportes a que os jovens são submetidos. Trata-se de um estilo de vida que está sendo investigado por psicólogos que relacionam a epidemia ao perfeccionismo. Estudo divulgado no ano passado nos EUA apontou que 70% dos 33 meninos que tiraram a própria vida tinham exigências altas demais. “O adolescente muitas vezes sofre com uma imagem fantasiada dos pais e não tem espaço para ser quem ele é, além de não tolerar a frustração”, diz Karen Scavacini, psicóloga e fundadora do Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio.
 (Foto: Rafael Sica)
INTERNET > Entre trolls e anjos da guarda
A internet tem um papel ambivalente quando o assunto é suicídio. Por um lado, ela pode ser a origem dos problemas dos jovens que tiram a própria vida. Um caso bastante comentado no Brasil foi o de Júlia Rebeca, que em 2013 anunciou sua própria morte pelo Twitter depois que um vídeo íntimo seu com outra jovem e um homem foi divulgado no WhatsApp. Rebeca, que morava em Parnaíba, no Piauí, foi encontrada morta enrolada no fio do aparelho de fazer chapinha. Na mesma semana, uma adolescente de 16 anos se suicidou em Veranópolis, no Rio Grande do Sul, depois que um ex-namorado vazou suas fotos íntimas na internet. “Essa exposição provoca uma dor muito grande e, se os jovens não conseguem falar sobre isso com a família ou amigos porque vão sofrer rejeição, eles correm maior risco de entrar em depressão e cometer suicídio”, diz o psiquiatra Humberto Correa.
O bullying online já levou dezenas de jovens ao suicídio e fóruns virtuais oferecem até passo a passo para se matar. Um dos primeiros casos brasileiros de suicídio assistido foi do gaúcho Vinícius Gageiro Marques, que se matou em 2006. Marques foi orientado a usar o método barbecue, ou suicídio por inalação de monóxido de carbono. Ele consiste em manter duas grelhas queimando num local fechado e pequeno, como um banheiro. Marques pediu ajuda num grupo de discussão em inglês para saber como suportar o calor até desmaiar, e um bombeiro aposentado de Chicago lhe deu instruções. Foi uma amiga virtual do Canadá que percebeu o que estava acontecendo, ligou à polícia local e pediu que avisassem as autoridades gaúchas. Era tarde demais.
Por outro lado, nem tudo é tragédia na relação entre web e jovens suicidas. A americana Trisha Prabhu, de 13 anos, criou um projeto para combater o cyberbullying, que a levou a ser finalista na Feira de Ciências do Google realizada neste ano. Trisha criou o “Rethink” (repense, em inglês), um sistema de alerta que exige que as pessoas pensem duas vezes antes de postar algo prejudicial em redes sociais. A ideia surgiu depois que ela resolveu estudar o cérebro dos adolescentes e descobriu que ele não está completamente desenvolvido, o que faz com que os jovens sejam mais impulsivos. Trisha testou o alerta com voluntários e, segundo ela, 93% desistiram de divulgar imagens depois do alerta.
A internet também pode ser um lugar onde se encontra ajuda. “As pessoas sentem que não recebem atenção ou são julgadas. Aí falam conosco e se sentem aliviadas”, disse à GALILEU Adriana Rizzo, voluntária do Centro de Valorização da Vida (CVV), ONG de combate ao suicídio que recebe um milhão de ligações por ano no Brasil. A ONG também atende por e-mail, chat e Skype. Hoje, a internet corresponde a 20% das assistências, a maioria voltada a jovens.
 (Foto: Rafael Sica)
INFLUÊNCIA > Suicídio por contágio
Um rapaz da aristocracia alemã se apaixona por uma bela jovem casada, não é correspondido e acaba se matando com um tiro na cabeça. Esse é o resumo do romance Os Sofrimentos do Jovem Werther, de Johann Wolfgang Goethe, proibido em vários países no século 18 por causa de uma onda de suicídios entre jovens que usaram o mesmo método do protagonista.
Por causa disso, a psicanálise criou o termo “efeito Werther”, ou seja, o suicídio “por contágio” ou “copycat”, quando celebridades ou figuras públicas se suicidam e influenciam multidões. Segundo pesquisas, ao menos 5% dos jovens tiram a própria vida por contágio. A atriz Marilyn Monroe, por exemplo, causou um aumento de 12% nos suicídios nos Estados Unidos após sua morte por overdose de barbitúricos em 1962.
“A forma como um suicídio é tratado na escola ou na mídia pode influenciar outros jovens, principalmente se há uma identificação muito forte com essa pessoa”, diz Karen Scavacini. O comportamento em vida de artistas também pode ser uma influência ruim. Quer dois exemplos? No clipe Everytime, a cantora Britney Spears se suicida numa banheira e renasce. Outra cantora, Demi Lovato, já declarou que se cortava para aliviar a dor.
ESTIGMA DA LOUCURA > Elefante na sala de estar
Suicídio já foi um tabu maior no passado, quando os jornais sequer falavam no tema por medo do efeito contágio. Anos de debates depois, ficou claro que, na verdade, a melhor forma de combatê-lo é exatamente falando sobre o assunto. “Há 20 anos, ninguém falava em câncer, Aids”, diz Karen. “Hoje, por que as pessoas fazem exames preventivos do câncer? Porque essas doenças foram debatidas, houve mobilização e campanhas.”
O problema do tabu é que as pessoas que tentam o suicídio são vistas como loucos, não como pessoas doentes que precisam desesperadamente de ajuda — e isso só serve para isolá-las ainda mais. Mônica Kother Macedo, psicanalista especializada em suicídio e professora da PUCRS, trabalhou diretamente com pessoas que tentaram se matar e uma das frases mais ouvidas foi “se eu dissesse o que passava na minha cabeça iam dizer que estava louco”. “Às vezes nem a pessoa leva seu sofrimento a sério”, diz Mônica.
Em mais de 90% dos casos de suicídio havia uma doença mental envolvida, sendo a depressão a mais comum. “As pessoas são capazes de ir ao médico por causa de rinite alérgica, mas não procuram ajuda para curar uma depressão. Elas veem isso como uma falência pessoal ou familiar, e não como uma doença, que tem cura, ao contrário da falência pessoal”, diz o psiquiatra Segal.
Outro obstáculo que isola ainda mais a pessoa com comportamento suicida são os mitos, como o de que quem fala em se matar não vai fazê-lo. “Pode ser que a pessoa esteja falando para chamar atenção, mas isso não é necessariamente negativo, ela está pedindo ajuda”, diz Carlos Felipe Almeida D’Oliveira, que foi coordenador da Estratégia Nacional de Prevenção do Suicídio.
 (Foto: Rafael Sica)
ETNIAS > Índios em extinção
O Rio Grande do Sul é o estado com a maior taxa de suicídio do Brasil, quase o dobro da média nacional. Mas a cidade que ocupa a primeira posição do ranking de suicídios, com taxa dez vezes acima da média nacional, está no outro extremo do país: é São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas. O motivo? Os índios entraram numa espécie de processo de extinção voluntária. É como se a ameaça de morte coletiva de 2012 da tribo Guarani Caiová estivesse se concretizando pouco a pouco em vários lugares do Brasil.
Nos últimos 10 anos, o suicídio entre jovens no Amazonas cresceu 134%, e a situação é parecida em outros estados do Norte, como Acre e Rondônia, que viram dobrar suas taxas de suicídios. E essa tendência não é registrada apenas no Brasil. Nos Estados Unidos, os jovens nativos com idade entre 15 e 24 anos se suicidam 3,3 vezes mais do que o restante dos norte-americanos. Já entre os indígenas Inuit do Canadá o índíce de suicídio é 11 vezes maior do que a média nacional. “Conflitos de terra, questões culturais, abuso de álcool. Precisamos de uma decisão política para considerar que é um problema de saúde pública”, diz o médico Carlos Felipe Almeida D’Oliveira.
 (Foto: Revista Galileu)




 (Foto: Rafael Sica)
DEPOIMENTO > O pior luto
No dia 13 de março de 2014, dia do Arcano da morte segundo a minha religião, minha filha mais velha, de 18 anos, nos deixou. Naquela quinta-feira, ela almoçou comigo, pediu um suco de manga e conversou normalmente. Deixei-a na casa da mãe com o combinado de nos encontrarmos no final da tarde, perto das 19 horas, que é a hora em que meus outros dois filhos chegam da escola. Minha filha de 16 anos chegou 10 minutos mais cedo e viu a cena. No início ela achou que não era verdade, já que o corpo estava semiapoiado na escada. Eu cheguei na sequência, ela já gritando, meu filho também, chegando da perua.
Eu a peguei, a outra filha cortou a corda, o pequeno tirou os óculos, e tentei reanimá-la. Ela se matou falando no WhatsApp, sem explicação. Ela calculou tudo: foi no dia em que sabia que eu estaria lá porque é o dia da semana que eu sempre passo na casa deles. Ela já tinha feito vestibular para Direito e concurso de técnico judiciário, estava só esperando as respostas. Ela deixou um bilhete, que diz basicamente que ninguém tem culpa, que ela não aguentava mais. Terminou com uma frase destacada: “gente morta não decepciona ninguém”.
No bloco de notas que encontramos havia o desenho de um laço e, como ela já foi escoteira, fez dois laços de tal forma que demorei a soltar do pescoço. O livro de escoteiro estava fora do lugar, e depois descobrimos que havia um bonequinho enforcado no quarto dela. Sinais que só fiquei sabendo depois. Ela não sofria de depressão, ainda não conseguimos entender por que ela resolveu fazer isso.
Eu era o pai herói, fiz o parto dela, fui a primeira e última pessoa que ela viu na vida. A primeira palavra que ela falou foi “papai”. Era meu orgulho. Às vezes ainda ouço a sua voz. O luto de uma morte natural ou acidental uma hora acaba e vira uma saudade. O luto do suicídio não acaba nunca. Foi o que ouvi em depoimentos no grupo de enlutados por suicídio que frequento. É infinitamente pior saber que ela foi porque quis nos deixar. Por mais que queiramos racionalizar, fica a sensação de que não estávamos à altura para satisfazê-la.
 (Foto: Rafael Sica)
DNA > Gene suicida
Já pensou se um simples exame de sangue detectasse tendências suicidas? Desde 1920, a neurociência e a psiquiatria se debruçam sobre os fatores genéticos do tema, e os resultados recentes são interessantes. Existe um denominador comum entre pessoas que tentaram se matar ou pensaram no assunto: uma mutação no SKA2, gene que desempenha um papel importante na forma como lidamos com o estresse. Estudo publicado no Jornal Americano de Psiquiatria mostra que os níveis de SKA2 estavam reduzidos nos genomas de pessoas que cometeram suicídio. O gene, responsável por orientar os receptores de hormônios do estresse nos núcleos das células, inibe pensamentos negativos e controla a impulsividade. Outro risco genético de suicídio está relacionado ao transporte do hormônio da felicidade. Estudos publicados nos últimos 10 anos relacionam depressão e tentativas de suicídio a alterações no transportador da serotonina, o gene 5-HTTLPR. O psiquiatra Jair Segal fez sua tese de doutorado com base nessa hipótese e diz que familiares de pessoas que se mataram têm um alto risco de tentar o suicídio, assim como gêmeos idênticos, com uma possibilidade de 15% no caso de um ter se suicidado. No entanto, essa relação é apenas um fator de vulnerabilidade. “Não existe determinismo genético, só sabemos que isso está ligado ao suicídio quando há algum transtorno mental”, explica.
RANKING > Epidemia silenciosa
O suicídio está na 16ª posição no ranking da Organização Mundial de Saúde de doenças que mais matam no mundo. Embora não tire tantas vidas quanto a isquemia (que ocupa o primeiro lugar na lista), ele mata mais do que muitas patologias  e que guerras. Acompanhe
 (Foto: Revista Galileu)

HISTÓRICO > Uma longa história
A forma de encarar o suicídio mudou nos últimos 2,5 mil anos. Em Roma, quem queria se matar tinha de pedir autorização ao Senado, enquanto no Japão era um ritual de honra. Descubra o que mudou
510 a.C. – Lucrécia, de origem nobre, foi estuprada pelo filho do tirano etrusco Tarquínio, o soberbo. Antes de cravar uma adaga no peito, pediu vingança e provocou uma revolta popular
399 a.C. – Condenado à morte pelo povo de Atenas, Sócrates escolheu se suicidar com uma taça de cicuta a renunciar às suas ideias
30 a.C. – Cleópatra, última rainha do Egito, morreu após tomar um coquetel de drogas aos 39 anos de idade. O mesmo destino teve seu amante, o líder romano Marco Antônio
452 – O Cristianismo considerou o suicídio um “trabalho do demônio” no Concílio de Arles, uma espécie de julgamento da Igreja Católica
Século 12 – Surge no Japão o haraquiri, o ritual de estripação de samurais para demonstrar pureza de caráter. Os pilotos suicidas da Segunda Guerra Mundial seguiram a mesma lógica de manter a honra
Século 17 – Começa o processo de “secularização do suicídio”. A discussão sobre insanidade englobou o suicídio, que começou a ser visto a partir de uma perspectiva mental
Século 19 – O sociólogo Émile Durkheim interpreta o suicídio por meio de fatores sociais, como a incapacidade de integração à sociedade, no livro O Suicídio, um Estudo Sociológico
Século 20 – Em 1918, o papa Bento XV reconhece o suicídio como insanidade. Paralelamente, o ato deixa de ser crime em vários países e é estudado pela psicologia
ALERTA > Se você tem pensamentos suicidas ou está deprimido, entre em contato com um voluntário do CVV pelo telefone 141 ou através do site www.cvv.org.br
(Autor: Gabriela Loureiro)

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

“Amor não correspondido”: discurso de adolescentes que tentaram suicídio



O suicídio é definido como o ato intencional de tirar a própria vida, iniciado e levado a cabo, por uma pessoa com conhecimento ou expectativa de resultado fatal. Configura-se como uma ação consciente de autodestruição que envolve a tríade: Vontade de morrer, de ser morto e de matar. Classificado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma violência auto infligida e que já é visto como um problema de saúde pública. Estima-se que, para cada caso, existem pelo menos dez tentativas que exigem atenção dos profissionais. Para cada tentativa de suicídio registrada, existem quatro não conhecidas. A mortalidade por suicídio aumentou 60% nos últimos 45 anos, situando-o entre as dez causas mais frequentes de morte na população entre 15 e 44 anos. Discorrer sobre suicídio na fase da adolescência é uma necessidade, pois as estatísticas têm demonstrado que essa taxa tem crescido nos últimos anos. Os adolescentes estão entre os grupos mais vulneráveis às experiências sexuais, ao contato com as drogas lícitas e ilícitas, podendo desencadear atitudes que expõem a saúde e a vida. Essas experiências muitas vezes os surpreendem com gravidez não planejada, conflitos interpessoais e enfrentamento de suas perdas.
Os participantes do estudo foram doze adolescentes, admitidos em um hospital de emergência, em Fortaleza, Ceará, Brasil, por tentativa de suicídio por qualquer mecanismo. Realizou-se no período de março a abril de 2005 e entre os sujeitos da pesquisa, não houve relatos de tratamento psiquiátrico anterior.

Caracterização dos participantes e do cenário cultural


A estrutura familiar de todos os participantes do estudo apresentava fragilidade socioeconômica, além de fragilidade de vínculos. Observou- se que a dissolução dos vínculos familiares, associada às dificuldades financeiras, tem contribuído para fomentar a ideação suicida e fazer com que o adolescente chegue a sua concretização. Percebe-se que a perda ou rompimento dos vínculos origina sofrimento e leva o indivíduo à descrença de si mesmo, tornando- o frágil e com baixa autoestima. (VIEIRA; FREITAS; PORDEUS; LIRA; E SILVA, 2009 apud GOMES e PEREIRA, 2005).
No estudo, os adolescentes apontaram comorazões para as tentativas de suicídio os problemas denatureza relacional, amorosa e familiar; contudo, o rompimento com a pessoa amada foi referido como peça-chave. Enfim, o amor não correspondido significa um símbolo no qual o adolescente transfere e projeta sentimentos complementares ou ambíguos. VIEIRA; FREITAS; PORDEUS; LIRA; E SILVA, 2009 apud MINAYO, 1998, relacionando a complementaridade e ambigüidade de sentimentos, ressalta, em estudo sobre à auto violência, que o fenômeno do suicídio está ligado ao seu caráter revelador de complexas relações sociais e pessoais. O rompimento do relacionamento amoroso acarretou, aos adolescentes do estudo, conflitos para os quais não houve, por parte dos adolescentes, mecanismos eficazes de enfrentamento. O contato com situações inesperadas, para as quais o jovem não consegue vislumbrar uma solução concreta, acaba por acarretar o estresse. Segundo VIEIRA; FREITAS; PORDEUS; LIRA; E SILVA, 2009 apud HELMAN, 2003, a importância das respostas psicológicas e das estratégias de resistência do indivíduo ao confrontar o fator de estresse passa pela sua subjetividade, desencadeando reações psicológicas mais extremas, como depressão, isolamento, ou mesmo o suicídio.
A, feminino, 18 anos, morava só, na periferia de Fortaleza. É filha adotiva e, segundo sua irmã, durante a infância e adolescência, era rebelde e tinha má conduta: “Ela não quis nada com a vida”. A é mãe de um bebê de seis meses e justificou sua tentativa suicida por que: “O pai da minha filha, ele gosta de outra, aí pensei em me matar e tomei veneno pra rato”.
Outro relato de “amor” não correspondido pode estar relacionado à necessidade de sentir-se querida no âmbito familiar: “Tudo que eu preciso minha tia dá, financeiramente, escola, e o que mais falta é carinho” (C, feminino, 18 anos).
Esses relatos denotam como razões para as tentativas suicidas os problemas de natureza relacional, amorosa e familiar; contudo, o rompimento com a pessoa amada foi referido como ponto crucial, impulsionando-os à concretização da ideia suicida.
O significado do amor não correspondido relaciona- se ao amor da família, da mãe, da inexistência de harmonia e respeito à família; não demonstraçõesde carinho, das relações que se estabelecemna escola, da construção imaginária doque seja um “casamento”, enfim, esse amor não correspondido significa um símbolo ao qual oadolescente transfere e projeta sentimentos complementares e ambíguos. 
 [...] Estar vivo? “É um presente de Deus” [...]. Essa foi a fala de cinco adolescentes quando solicitados a falar sobre o que representava estar vivo. Três afirmaram que não sabiam responder. Um deles achava que “não representava nada”, outro não respondeu, outro afirmou que não “conseguia viver sem o namorado” e um disse que neste ato “via a possibilidade de mudar a vida”.
Associar “estar vivo” a “ um presente de Deus” pode sugerir a carência em várias dimensões afetivas e autoestima comprometida. Ao analisar o discurso dos adolescentes sobre a representação de estar vivo, revelou-se que a tentativa de suicídio se configurou como a forma de expressão que o adolescente encontrou para exteriorizar uma solicitação de auxílio na busca de romper com o sofrimento acarretado pela rejeição. Corroborando esse pensamento, VIEIRA; FREITAS; PORDEUS; LIRA; E SILVA, 2009 apud VIANA, ZENKNER, SAKAE, ESCOBAR, 2008, certificam, em estudo sobre o suicídio no sul do Brasil, que a ideação suicida é vislumbrada como uma maneira de resolver problemas de ordem pessoal, antes mesmo de ter o objetivo de acabar com a própria vida. Apoiando o pensamento de Viana, em pesquisa acerca da tentativa de suicídio como via traumáticapara o ato suicida, VIEIRA; FREITAS; PORDEUS; LIRA; E SILVA, 2009 apud MACEDO, 2006, declarou que a tentativa de suicídio decorre da combinação do sofrimento psíquico extremo com a incapacidade em conceder figuralidade à dor psíquica, levando o ser humano a buscar meios para romper radicalmente com a essa dor. Como a atenção do adolescente está voltada para fora do lar e centrada nos grupos de amigos, colocando a família em segundo plano, as dificuldades relacionais entre os membros da família diminuem as possibilidades desses utilizarem suas habilidades para construírem estruturas flexíveis e de ter uma postura voltada para a superação dos problemas, potencializando os níveis de tensão e de crises. Nesse parâmetro, as tentativas de suicídio devem ser vistas como formas de comunicação de sofrimentos, geralmente dirigidas às pessoas mais próximas na medida em que esses indivíduos estão inseridos num contexto conjugal, familiar ou qualquer outra rede social. (VIEIRA; FREITAS; PORDEUS; LIRA; E SILVA, 2009apud D’OLIVEIRA in LIMA, 2004).
As respostas dos adolescentes quando questionados sobre a reação da família e amigos em relação ao seu ato suicida direcionaram- se para a desaprovação e incompreensão do ato: “Achava que ninguém queria me ver” (A, feminino, 18 anos). Outras verbalizações foram expressas: “Acusaram o menino, tão botando culpa no menino” (B, masculino, homossexual, 18 anos). “Pediram para eu não fazer mais isso” (H, feminino, 19 anos). “Não falou nada. Minha avó disse que se eu ficasse viva, nunca mais ia nem botar a cabeça para fora” (J, masculino, 19 anos). “Tu tá ficando doida, não devia ter feito isso” (C, feminino, 18 anos).
Quando um adolescente se depara com o insucesso da tentativa suicida, na maioria das vezes, enfrenta reações de indignação, surpresa, estranhamento, incompreensão. Outro ponto a salientar e que no modelo assistencial atual, não se constitui como prática, nos serviços de emergência. Os familiares que acompanhavam o adolescente no momento da hospitalização exteriorizaram a sua angústia em relação ao atendimento prestado pela equipe de saúde. Nesse contexto, argumenta-se que a inabilidade do profissional diante do suicida evidencia sua visão de mundo diante do fenômeno morte e das condições de trabalho inadequadas. A superlotação nos serviços de emergência deixa os profissionais impotentes e perplexos com a violência e a banalização da vida. No atendimento profissional da pessoa suicida, em emergências psiquiátricas e salas de recuperação anestésicas, os profissionais não compreendem e nem estão preparados para lidar com esse problema de saúde. Agressividade, preconceito e incompreensão foram constantes em seus discursos VIEIRA; FREITAS; PORDEUS; LIRA; E SILVA, 2009 apud SAMPAIO, 2000.
Contudo, é preciso se pôr no lugar do outro, tornar-se um protagonista importante na rede deapoio ao bem-estar desses jovens, no sentido de resgatar a valorização da vida. 
Diante das razões esboçadas pelos adolescentes e certas de que o tema solicita novas investigações, recomenda-se que os setores que atendem adolescentes discutam o suicídio e tenham como enfoque a valorização da vida; que haja ressignificação da prática de profissionais que trabalham em setores de emergência, no sentido de entender que esse evento está próximo de todos nós e tem possibilidades de prevenção; que ocorra a inserção da família nesse atendimento e, na impossibilidade, que os profissionais estejam sensíveis para referenciar aos órgãos que possam oferecer resolubilidade e discutir a temática com futuros profissionais para construir uma prática centrada na integralidade. E necessário que a sociedade “abrace” as políticas que valorizam a vida, compartilhe adversidades, resgate autoestima e redimensione a lógica do atendimento em saúde, buscando o atendimento de outras necessidades que não se restringem ao biológico, mas que se articule com os princípios do SUS.

Referência Bibliográfica

VIEIRA, Luiza Jane Eyre de Souza; FREITAS, Mary Landy Vasconcelos; PORDEUS, Augediva Maria Jucá; LIRA, Samira Valentim Gama; E SILVA, Juliana Guimarães, 2009. “Amor não correspondido”: discursos de adolescentes que tentaram suicídio. Ciência & Saúde Coletiva, 14(5):1825-1834. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232009000500024>. Acesso em: 20 de Outubro de 2015.