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quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Suicídio: Diversos olhares da psicologia


Abordagem psicanalítica
Para a Psicanálise freudiana, o suicídio está relacionado ao desejo do indivíduo, à angústia e a fatores psíquicos associados. SENNA; LEITE; DUARTE; PLATON; MARTINS; E SILVA; FERREIRA; BIAGI; COELHO; PINTO apud FREUD 1990, em sua obra Luto e Melancolia, afirma que um indivíduo só seria capaz de atentar contra a própria vida, caso renunciasse à autopreservação, e que o narcisismo deveria ser considerado como um dos fatores desencadeantes de tal ato. No mesmo estudo, ele concebeu a existência de apenas dois instintos básicos: Eros (instinto de vida, do amor) e Tanatos (instinto de morte, destrutivo). A atuação concomitante e conflitante dos dois instintos basais dá procedência a toda abundância de fenômenos da vida, inclusive o do ato suicida. A única maneira do instinto de vida ceder de forma a induzir o indivíduo a buscar a morte seria que este entrasse em um estado melancólico. Para SENNA; LEITE; DUARTE; PLATON; MARTINS; E SILVA; FERREIRA; BIAGI; COELHO; PINTO apud Freud 1990, a análise da melancolia mostra que o Ego a instância psíquica que põe o indivíduo em contato com a realidade só pode se matar se puder tratar a si mesmo como objeto, ou seja, se for capaz de dirigir contra si mesmo a hostilidade contra um objeto do mundo externo. Na melancolia, bem como em outros distúrbios narcísicos, emerge um traço peculiar na vida emocional deste sujeito: a ambivalência. A melancolia apresenta um objeto narcísico que faz parte do indivíduo e a perda desse objeto configura a perda de si mesmo. Assim, o melancólico pode se destruir com o objetivo de não ter de confrontar com a falta do objeto e, por consequência, de si próprio. Concluindo as ideias acima, através da teoria freudiana, pode-se perceber que tanto no luto quanto na melancolia o Ego adquire a função de preservar o objeto perdido, inicialmente identificando-se com ele e após o incorporando. No luto normal há uma percepção gradual da não existência do objeto amado na realidade e isto é compensado através da instituição de um novo objeto amoroso (re-investimento). Já na melancolia (luto patológico), existe a presença de culpa e hostilidade muito intensas de forma que o objeto torna-se fantasioso, morto pelo indivíduo. Desta forma, o objeto torna-se um perseguidor interno que exige vingança.
SENNA; LEITE; DUARTE; PLATON; MARTINS; E SILVA; FERREIRA; BIAGI; COELHO; PINTO apud MENNINGER 1970, enxerga que todo ato agressivo ou destrutivo contra a própria vida é uma manifestação do instinto de morte contra o Eu. Para ele, a prática suicida pode ter origem em diversos temas, inclusive aqueles que se referem ao meio ambiente, ou seja, a não elaboração interna de algumas percepções e vivências. Este é inclusive o fator mais relevante para desencadear o comportamento suicida.
SENNA; LEITE; DUARTE; PLATON; MARTINS; E SILVA; FERREIRA; BIAGI; COELHO; PINTO apud FREUD 1990, a pessoa desde o momento em que nasce até seu “último suspiro” vivencia perdas, e isso pode induzir ao luto e à melancolia. Supõe que, para o suicida, as reações consigo mesmo ou com o mundo externo frente a essas perdas, se deram em algum aspecto de maneira errônea. SENNA; LEITE; DUARTE; PLATON; MARTINS; E SILVA; FERREIRA; BIAGI; COELHO; PINTO apud FREUD, afirma que a maior expressão da pulsão de morte seria a agressividade; quando esta não é dirigida ao meio pode voltar-se contra o sujeito e culminar no ato suicida. O ser humano é capaz de abster-se da auto-conservação para privilegiar a auto-estima (narcisismo). Outro aspecto considerável seria o caso do sujeito se encontrar em posição de desprestígio, sentindo-se com sua auto-estima rebaixada. Em ambas as ocorrências, seria possível que o ato suicida viesse a ocorrer. Outra hipótese, ainda formulada por Freud, é de que existe um instinto de morte em que a meta é levar o indivíduo para um estado de calma ou serenidade, caracterizado pela não-existência. Quando este instinto torna-se mais forte que o instinto de vida, pode levar ao ato suicida, sendo, o equilíbrio entre os dois impulsos que mantém o controle da vida. SENNA; LEITE; DUARTE; PLATON; MARTINS; E SILVA; FERREIRA; BIAGI; COELHO; PINTO apud HOLMES, 2001.

Abordagem Fenomenológica
A Fenomenologia põe em questão, o próprio modo de ser do homem, sua problematicidade e a busca de resoluções para essa questão do ser, do existir, que jamais deixará de ser complicada para o homem enquanto ele viver. Algumas correntes abordam o suicídio como um ato isolado, porém através da fenomenologia é visto em uma perspectiva mais abrangente, que engloba as condições existenciais do indivíduo; é preciso compreender a existência em sua totalidade, respeitar o homem enquanto homem, alguém possuidor de sentimentos, sensações e emoções.
Podemos dizer segundo SENNA; LEITE; DUARTE; PLATON; MARTINS; E SILVA; FERREIRA; BIAGI; COELHO; PINTO apud CRITELLI, 1996 que habitamos um mundo, por muitas vezes inóspito; o homem então cria um mundo artificial no qual se demonstra difícil de se abrigar e acolher, sendo assim, para o homem “Ser-no-mundo” como os homens é habitar a inospitalidade. Por ter que ser-no-mundo, o indivíduo se vê “condenado” a cuidar-se, por ser o ser das possibilidades, o dasein (condição de ser do indivíduo que possui inúmeras possibilidades) escolhe, mas não há caminhos certos, existem diferentes caminhos à serem escolhidos. E esses caminhos são “construídos” pelo próprio sujeito em seu caminhar. Essa condição, segundo SENNA; LEITE; DUARTE; PLATON; MARTINS; E SILVA; FERREIRA; BIAGI; COELHO; PINTO apud HEIDEGGER 1987, embora libertadora, torna o viver humano um constante angustiar-se por causa da difícil tarefa de ser imerso sempre em inúmeras possibilidades. Afirma também que, quando o homem olha para o futuro, ele vislumbra a única possibilidade que é certa: a possibilidade de não-mais-ser-aí. Dessa forma, o não-ser passa a ser parte importante da constituição do indivíduo, enquanto o ser-aí passa a adquirir presente, passado e futuro e a fazer sua história. Porém a morte não é só um limite colocado num horizonte marcado e distante, ela pode acontecer a qualquer instante. Quando o homem nasce, ele já está sujeito e pré destinado a morrer.
Poucos temas provocam tanta polêmica entre os estudiosos de ciências humanas quanto às causas das tentativas de suicídio. Embora seja indevida qualquer generalização, grande parte dos casos corresponde a situações de vida insuportáveis.
SENNA; LEITE; DUARTE; PLATON; MARTINS; E SILVA; FERREIRA; BIAGI; COELHO; PINTO apud CAMON 1992 acredita que a morte é a ocorrência concreta da existência humana. Sendo assim, podemos dizer que, para os indivíduos tentadores de suicídio, a morte apresenta-se como única alternativa para o sofrimento, afinal os mesmos apresentam uma grande dificuldade em aguentar o peso da própria vida e da própria condição humana, o que gera muita angústia e solidão. Para SENNA; LEITE; DUARTE; PLATON; MARTINS; E SILVA; FERREIRA; BIAGI; COELHO; PINTO apud CAMON, 1992, p.22, o tentador de suicídio, em primeira instância, acredita ser um indivíduo que escolhe, mesmo que essa escolha o leve à morte, sendo que a maior parte deles possui uma opção original onde “viver é mais degradante do que morrer”.
Quando se observa o suicídio como alternativa para devaneios e sofrimentos existenciais, algumas pessoas não estão necessariamente buscando a morte. O indivíduo que busca o suicídio, normalmente não tem o conceito concreto de morte, de desaparecimento total. Por muitas vezes, esses tentadores possuem uma crença de vida pós-morte, buscando assim um possível paraíso, a reencarnação. A morte surge
como consequência dos seus atos, não como busca deliberada. Porém segundo SENNA; LEITE; DUARTE; PLATON; MARTINS; E SILVA; FERREIRA; BIAGI; COELHO; PINTO apud CAMON, 1992, deve-se ressaltar que o homem é responsável pela sua autodestruição, de forma consciente e real. Afirma também que o tentador de suicídio possui uma vivência tóxica do mundo e essa vivência implica em um desejo de morte, ou de a todo o momento estar suicidando-se. SENNA; LEITE; DUARTE; PLATON; MARTINS; E SILVA; FERREIRA; BIAGI; COELHO; PINTO apud, apoiado nos pressupostos heidggerianos, acredita que o homem deva refletir acerca do sentido de sua vida, ou do sentido que lhe foge, para adquirir um modo de viver mais “apropriado” e mais “autêntico”. Nessa visão, os momentos de confronto com o absurdo só estabeleceriam o desejo de viver quando ajudassem a pessoa a ver um sentido maior em estados de sofrimento.

Abordagem Comportamental
A teoria comportamental representa um dos eixos centrais da psicologia. Dentro dos seus pressupostos teóricos e epistemológicos, é possível identificar mecanismos de compreensão dos mais diferentes fenômenos psíquicos sociais. Conforme SENNA; LEITE; DUARTE; PLATON; MARTINS; E SILVA; FERREIRA; BIAGI; COELHO; PINTO apud SKINNER, 1998, “A ciência do Comportamento tem como interesse principal analisar as causas do comportamento humano, ou seja, saber por que os homens se comportam de determinadas maneiras”. Assim, na presente teoria, pretende-se analisar o comportamento suicida e aspectos a ele relacionados. Por acreditar que o comportamento se desenvolve em uma relação funcional, a teoria comportamental não trabalha com categorias, e sim com a compreensão de que um comportamento se dá na análise funcional.
 Entende-se conforme SENNA; LEITE; DUARTE; PLATON; MARTINS; E SILVA; FERREIRA; BIAGI; COELHO; PINTO apud SKINNER 1998, p.38, a análise funcional como: “As variáveis externas, das quais o comportamento é função, dão margem ao que pode ser chamado de análise causal ou funcional. Tentamos prever e controlar o comportamento de um organismo individual ”.  Quando se analisa um comportamento, a teoria, pautada na análise funcional, desenvolve critérios que perpassam extensa sistemática de sua metodologia. O comportamento para Skinner está sob uma série de contingências. Para SENNA; LEITE; DUARTE; PLATON; MARTINS; E SILVA; FERREIRA; BIAGI; COELHO; PINTO apud SKINNER< 1978,  dois tipos de estímulos que agem sobre o comportamento: “o estímulo que aumenta a probabilidade futura de emissão da resposta que o antecedeu é chamado de reforço, enquanto aquele que diminui a probabilidade futura de ocorrência desta resposta é conhecido como estímulo punitivo”. Através da consequência da resposta do comportamento, o meio ambiente os seleciona de forma dinâmica; havendo novas alterações no ambiente, o comportamento poderá retroagir de forma a se modificar e se adaptar à nova situação. A análise comportamental compreende o comportamento subtendido em três dimensões que o influenciam fortemente: os aspectos fisiológicos, ontogenéticos e culturais.  Além dos aspectos filogenéticos, ontogenéticos, justifica-se a análise das contingências atuais que são responsáveis pela manutenção do comportamento se elas forem associadas à análise (histórica) das contingências selecionadas. Por isso na análise funcional do comportamento suicida acredita-se que a história individual de cada sujeito tem uma forte determinação no seu repertório comportamental presente. Assim, pode-se compreender o comportamento suicida como uma categoria comportamental, dotada de especificidade comportamental, constituída pelas diversas instâncias contingenciais, que, através de determinados estímulos discriminativos, modelam o comportamento suicida, no qual os estímulos que preponderam são a punição e o reforço negativo. Conforme SENNA; LEITE; DUARTE; PLATON; MARTINS; E SILVA; FERREIRA; BIAGI; COELHO; PINTO apud SIDMAN 1995, p. 132, diz que “o suicídio é a fuga das garras de necessidades e coação repentinamente esmagadora, ou uma vida dominada por reforçamento negativo e punição”. Desta forma, a teoria comportamental oferece um instrumental teórico que, dentro das suas possibilidades, permite a compreensão de alguns relevantes aspectos para o fenômeno do suicídio.

Referência Bibliográfica

SENNA, Ana Cristina M. de B; LEITE, André Félix Portela; DUARTE ,Cíntia Pérez; PLATON, Débora; MARTINS ,Julia Ghinaldini; E SILVA ,Luciana Coltri; FERREIRA Mérari Jizar L; BIAGI, Nathália; COELHO, Prof. Dra. Maria Renata Machado Vaz Pinto. Suicídio: Diversos olhares da Psicologia. Boletim de Iniciação Científica em Psicologia – 2004, 5(1): 77-92. Disponível em: <http://www.mackenzie.com.br/fileadmin/Graduacao/CCBS/Cursos/Psicologia/boletins/5/SUICIDIO_DIVERSOS_OLHARES_DA_PSICOLOGIA.pdf>. Acesso em 29 de Outubro de 2015.




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