Pesquisar este blog

sábado, 14 de novembro de 2015

"Disseste que se tua voz tivesse força igual à imensa dor que sentes
 teu grito acordaria não só a tua casa mas a vizinhança inteira"

                                                                                         Legião Urbana 
 


Sentimentos e emoções conflituosas, ansiedade, desesperança, impotência, baixa auto-estima, medo desproporcional para enfrentar a vida e depressão são situações que podem estar presentes na vida do adolescente com ideação ou histórico de tentativas de  suicídio.  Muitas das tentativas são pedidos de ajuda e atenção a alguma situação que não está bem na vida do jovem. Desta forma, quaisquer ameaças de suicídio devem ser encaradas com seriedade, mesmo quando possam parecer falsas ou manipulativas. 
É extremamente importante mostrar disponibilidade de escutar sem julgar, insultar, culpar ou repreender moralmente buscando compreender as razões pelas quais o adolescente optou pelo suicídio como forma de lidar com seu sofrimento. Importante salientar que não é indicado minimizar os problemas e sofrimento do suicida, muito menos dar falsas garantias ou fazer promessas que não possam ser cumpridas. 
O suicídio na adolescên­cia é um problema que diz respeito não apenas à família das vítimas, mas também aos professores, amigos, profis­sionais de saúde, além da comunidade como um todo. Quando se escolhe falar, ter alguém para escutar pode estabelecer a linha tênue entre vida e morte. 
 Escolha falar, escolha viver.

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Aos 29 anos, americana em estágio terminal de câncer no cérebro decide acabar com sua vida.

Ela deixou uma mensagem de despedida no Facebook e comoveu o mundo ao escolher o que chamou de: Um dia para morrer, com paz e dignidade.

Sábado, dia 1º de novembro de 2014. Brittany Lauren Maynard, 29 anos, está na casa onde vive há alguns meses, em Portland, cidade do estado de Oregon, nos Estados Unidos. Ela tem a companhia do marido, Daniel Diaz, da mãe, Deborah Ziegler, e do padrasto, Gary Holmes. A certa altura, a americana sobe os degraus que dão acesso ao segundo andar, caminha até o quarto que divide com Dan – como gosta de chamar o companheiro –, tira da bolsa dois frascos amarelos de remédios prescritos. O cômodo abriga uma cama de casal com dossel de madeira escura, três porta- retratos e uma janela com vista para a copa das árvores do jardim, instalada na parede rosa-claro que fica atrás da cabeceira. Cerca de cinco minutos após ingerir a medicação, Brittany dorme. Cerca de meia hora depois, ela está morta. 

“Adeus a todos os meus queridos amigos e família que eu amo. Hoje é o dia que escolhi para passar com dignidade em face da minha doença terminal, este terrível câncer no cérebro que tirou tanto de mim... Mas ainda teria me tomado muito mais.” A mensagem de despedida, divulga- da no Facebook a pedido de Brittany na manhã seguinte, é sua tentativa derradeira de trazer luz à discussão do direito de um paciente com uma doença terminal decidir quando e como encerrar a própria vida. Semanas antes, essa jovem americana já ocupava as principais manchetes do mundo, expondo publicamente os motivos que a levaram a optar pela chamada morte assistida – ato assegurado por lei para pacientes terminais em cinco dos 50 estados americanos. Nas próximas linhas, os momentos mais marcantes dessa história. Opiniões e crenças à parte, difícil é não ficar tocado por ela. 

O diagnóstico: 1º de janeiro de 2014 
Durante o Réveillon de 2014, Brittany não estava bem. Uma forte dor de cabeça seguida por um apagão a levou ao hospital. A notícia não demorou a chegar. Ela tinha um grave tumor no cérebro, “nível 2”, definiram os médicos. A professora americana, com sua família, encontrou, enfim, a explicação para as enxaquecas constantes que haviam começado pouco mais de um ano antes – e foram diagnosticadas como um quadro de cefaleia, confusão comum de neurologistas ao receber queixas do gênero vindas de pacientes jovens. “Quando se tem 29 anos, ouvir que talvez consiga viver no máximo mais cinco ou dez é como lhe dizerem que você vai morrer amanhã”, declarou Brittany sobre a descoberta. 

Ela chegou a se submeter a uma cirurgia e aos tratamentos convencionais, mas, em abril, novos exames mostraram que o glioblastoma multiforme, mais agressivo e letal tipo de câncer cerebral, havia crescido e já estava no estágio 4, ou seja, terminal. Segun- do especialistas, Brittany teria seis meses de vida e uma qualidade cada vez mais comprometida, com convulsões e perda de funções cerebrais. Foi em uma segunda-feira que o drama de Brittany tornou-se público. Por meio de um depoimento em apoio ao movimento Morte com Dignidade, do grupo pró-eutanásia Compassion & Choices, a americana narrou sua decisão de encerrar a vida. No vídeo, visto até recentemente por mais de 11,3 milhões de pessoas no YouTube, ela revelou que tentava engravidar do marido, com quem havia se casado em setembro de 2012, quando descobriu a doença. Contou também que buscou entender quais seriam suas chances e os efeitos colaterais dos tratamentos, mostrou por meio de fotos o quanto sua aparência mudou drasticamente com os medicamentos e relembrou o dia em que não conseguiu falar, olhando para o rosto de Dan sem se lembrar de seu nome. Assim, decidiu se mudar com a família da Califórnia para o Oregon, primeiro estado norte-americano a legalizar a morte assistida para pacientes em estado terminal, a partir de 1997. E anunciou a data provável, seis dias depois do aniversário do marido: “Planejo estar cercada da minha família. Vou morrer no quarto que divido com meu marido, com ele e minha mãe ao meu lado, descansando em paz com alguma música de que gosto”. 

(Quase) Mudança de planos: 30 de outubro 
A declaração obviamente causou uma grande repercussão e Brittany concedeu algumas entrevistas emocionadas para veículos como CNN e CBS. “Eu mal consigo explicar o alívio que sinto sabendo que não preciso morrer da maneira como me descreveram que o tumor faria”, justificou. “Eu não quero morrer. Se alguém conhecer uma cura milagrosa que salve a minha vida para eu poder ter filhos com o meu marido, essa seria a minha opção (...) É o câncer que está encerrando a minha vida. Eu só estou escolhendo terminá-la um pouco antes”, desabafou Brittany, tentando conter as lágrimas. Com o objetivo de acender o debate a respeito da morte assistida, ela criou o The Brittany Maynard Fund – no site (www.thebrittanyfund.org), qualquer pessoa pode informar- -se e até enviar uma mensagem de apoio à família Maynard Diaz. “Ainda me sinto bem o suficiente e ainda tenho alegria o suficiente (...) Apenas não me parece que seja a hora certa agora”, Brittany declarou em um novo vídeo. Ela também falou que se sentia triste com a repercussão negativa e que “a decisão vai acontecer porque sinto todos os dias que estou mais e mais doente”. Dois dias depois, sua morte foi confirmada na página mantida pelo grupo de defesa da escolha de fim de vida: “Brittany inspirou milhões de nós com sua sabedoria e coragem. Ela morreu nos braços amorosos de sua família”. A página sugere que as pessoas compartilhem suas condolências com os familiares da jovem, que receberão as mensagens “no momento adequado”. A notícia repercutiu até no Vaticano, que classificou o ato como “repreensível”. “Dignidade é diferente de colocar fim à própria vida”, declarou o principal oficial de bioética da Santa Sé, o monsenhor Ignacio Carrasco de Paula. “O suicídio não é uma coisa boa. É uma coisa ruim, porque diz não à vida e a tudo que ela significa com respeito à nossa missão no mundo e com aqueles ao nosso redor”, acrescentou. Brittany, que completaria 30 anos em 19 de novembro de 2014, aproveitou seus últimos meses viajando e passando tempo com as pessoas que amava. Sua lista de desejos incluiu passeios pelo Parque Nacional de Yellowstone, Alasca e Grand Canyon. “Isso é tudo o que posso fazer. Todas as coisas que fazem cada dia valer a pena.”

http://soumaiseu.uol.com.br/noticias/jornal/um-dia-para-morrer-com-paz-e-dignidade.phtml?cmpid=fb-uolmul#.VjIzmivamM8 

Suicídio no Brasil

A Fundação Oswaldo Cruz – FIOCRUZ possui uma equipe de pesquisadores que fazem parte do Grupo de Pesquisa de Prevenção do Suicídio (PesqueSui). O PesqueSui realiza pesquisas sobre suicídio e ideação suicida, além do uso de emergências pela população e métodos de educação em massa sobre saúde mental. 
Acreditando que a informação é um passo decisivo para romper o tabu social e uma boa forma de trabalhar a prevenção, o grupo PesqueSui produziu o documentário “Suicídio no Brasil”. Esta produção em conjunto pela FioCruz e a VideoSaúde, apresenta informações como dados epidemiológicos, percepção social e formas de enfrentamento. 
Um ótimo material para todos que queiram conhecer o tema e que se interessem pela sua prevenção. 




Realização: Grupo de Pesquisa de Prevenção do Suicídio (PesqueSui) - Licts/Icict/Fiocruz
Produção: Grupo de Pesquisa de Prevenção do Suicídio e VideoSaúde
Direção: Eduardo Thielen
Distribuição: VideoSaúde -- Distribuidora da Fiocruz
Ano da produção: 2012Para conhecer melhor o trabalho realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) e pelo Grupo de Pesquisa de Prevenção do Suicídio (PesqueSui) acesse: 

 
 

terça-feira, 10 de novembro de 2015

A esperança (não) é a última que morre

                                                   
        “Quem tem porquê viver pode suportar  qualquer quase como.”  Friedrich Nietzsche                                                                                                                                     
Diz o ditado popular que “a esperança é a última que morre”. Mas será mesmo? Se pensarmos que os humanos são movidos pela busca constante por uma vida mais satisfatória na qual consigam atingir metas, realizar desejos e sonhos, pode-se entender que o ser é movido pela esperança. Mas se a esperança é um construto que nos estimula e impulsiona constantemente, o que acontece se por alguma razão ela deixar de existir? 
O futuro é composto de possibilidades, uma projeção de expectativas do presente, contudo se no futuro não há esperança pode-se subentender que é então, o começo do processo de morrer. Tal afirmação nos conduz à questão que coloca a esperança, ou melhor a falta dela, a desesperança; como causa potencial de tentativas e atos consumados de auto-extermínio. Logo, a esperança morre primeiro e o sujeito morreria por último em detrimento da ausência da primeira. 
Pode-se compreender a desesperança como uma crença de que o futuro será pior ou igual ao que se vive no presente e na crença de que neste futuro as coisas simplesmente não vão melhorar. Segundo Beck: “em seu nível mais fundamental, a desesperança é uma cognição; é uma crença de que o futuro é sombrio, que seus problemas nunca se resolverão” (BECK, 1997). Ainda segundo BECK, quanto maior a intensidade da desesperança mais fácil se torna a interação com estressores ambientais e menos adversidades serão necessárias para desencadear uma crise suicida. 
Sob a perspectiva da Psicologia Cognitiva Comportamental, não são os fenômenos ou acontecimentos do mundo imediato e externo que influenciarão na forma de agir e pensar do indivíduo, mas sim o modo como os mesmos são interpretados. Os esquemas cognitivos que são inerentes a cada sujeito, têm papel primordial nesta tarefa pois os mesmos se refere à uma rede estruturada e inter-relacionada de crenças que podem ser ativadas ou desativadas conforme a presença ou ausência de experiências estressantes (CALLEGARO, 2011 apud BECK 1976). Logo esquema é um mecanismo que processa informação e que: 
“(...) filtra, codifica e avalia os estímulos aos quais o organismo é submetido... Com base na matriz de esquemas, o indivíduo consegue orientar-se em relação ao tempo e espaço e categorizar e interpretar experiências de maneira significativa” (BECK, 1997). 
Esquemas também denominados como crenças centrais disfuncionais são avaliações genéricas sobre si mesmo, sobre o outro e sobre a relação com o mundo que o cerca (RANGE, 2001). Na maioria das vezes, tais crenças não são conhecidas e claras para o indivíduo, já que são da ordem do inconsciente. Desta forma, sob determinadas circunstâncias, o resultado da invocação destas crenças, influenciarão a percepção errônea sobre acontecimentos e situações afetando diretamente o comportamento do indivíduo (BECK, 1997). 
Callegaro (2011) em acordo com Beck, dita que os esquemas contaminam a arquitetura mental do sujeito direcionando a interpretação dos acontecimentos, como resultado verifica-se a percepção distorcida e tendenciosa que por sua vez culminam em concepções errôneas, atitudes distorcidas e expectativas pouco realistas. De tais processamentos esquemáticos emergem os pensamentos automáticos que quando enviesados, são ditos disfuncionais. 
O modelo cognitivo afirma que a os pensamentos automáticos “são espontâneos e fluem em nossa mente a partir dos acontecimentos do dia a dia”( RANGÉ, 2001). Segundo Cordioli et al (2008) pensamento automático “ (...) São mensagens específicas, discretas, (...) compostas por palavras curtas e essenciais. Muitas vezes a pessoa não consegue perceber estes pensamentos, tendo apenas conhecimento da emoção que se segue”. Para Beck,(1993) breves e rápidas avaliações cognitivas que não dependem de raciocínio são denominados pensamentos automáticos: "um pensamento ou imagem visual do qual você pode não tomar consciência a menos que focalize nele sua atenção". Tais pensamentos são freqüentemente aceitos como verdades absolutas de forma irrefletida ao que fazem uma ponte entre as reações emocionais, os acontecimentos externos e as respostas comportamentais. Pensamentos automáticos disfuncionais do tipo “ não tem mais jeito para mim” , “ se eu morrer será mais fácil para todo mundo”, “ não há saída além de me matar pois nunca vou ser feliz” ou “ sou um estorvo na vida de todo mundo”, são exemplos clássicos de pensamentos automáticos disfuncionais recorrentes em indivíduos com tendências suicidas. 
Diante do exposto faz-se perceptível a necessidade de se efetuar o questionamento de crenças básicas e a observação de pensamentos automáticos para que seja possível iniciar uma jornada ao autoconhecimento. O sujeito deve buscar entender de que forma as crenças centrais estão ditando seu comportamento e influenciando as suas escolhas. Esta jornada é de salutar importância para que o sujeito evolua e consiga englobar em sua vida psíquica crenças mais funcionais, adaptativas e mais positivas para que desta forma consiga voltar a projetar seu futuro, resgatar a esperança e a vontade de viver. 
De acordo com Beck ( 1997) “[...] em nosso modelo, níveis mais elevados do estado de desesperança estão associados a uma ideação suicida cada vez mais aguda”. Deste modo mostra-se necessária a manutenção de crenças de que dias melhores virão para assim ser possível  renovar a esperança. Entretanto, deve-se ficar sempre atentos para o que está sendo projetado para o futuro, pois futuro não existe (ainda) sendo o que se pensa e o que faz no agora que vai criá-lo.

Referências:

BECK, Aaron. FREEMAN, Arthur. Terapia cognitiva dos transtornos de personalidade. Tradução organizada por A.E. Fillman. Porto Alegre: Artes Médicas. 1993.
BECK, Aaron. Et al. Terapia Cognitiva da Depressão. Trad. Sandra Costa. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
BECK, Judith S. Terapia Cognitiva: Teoria e Prática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
BECK, Aron T.; ALFORD, Brad A. O poder integrador da terapia cognitiva. Porto Alegre: Artmed, 2000.
CORDIOLI, Aristides Psicoterapias: abordagens atuais. Porto Alegre: Artemed, 2008.
CALLEGARO, Marco Montarroyos. O novo inconsciente. Porto Alegre: Artemed, 2011.
CLONINGER, Susan C. Teorias da Personalidade. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
RANGÉ, Bernard. Psicoterapias Cognitivo Comportamentais: um diálogo com a psiquiatria. Porto Alegre: Artemed, 2008.

O prolongamento da tristeza e o risco de suicídio


O suicídio é um fenômeno complexo e, como um problema grave de saúde pública, requer a nossa atenção, mas, infelizmente, a sua prevenção e controle não são tarefas fáceis.  
Quando pensamos em autoextermínio é interessante nos questionarmos sobre as motivações por trás de tal ato. A literatura acerca deste tema é vasta. Trataremos aqui, especificamente, das ocorrências em adolescentes.  Quais são os fatores de risco? Quais são as medidas de proteção? 
Entendemos por fatores de risco e fatores de proteção aqueles elementos com grande probabilidade de desencadear ou potencializar um evento indesejado, não sendo necessariamente o fator causal e, também, os recursos pessoais e/ou sociais que atenuam ou neutralizam o impacto do risco. Bahls (2002) ressalta que se deve estar atento para os seguintes sinais: os estados de humor irritável ou depressivo duradouro e/ou excessivo, os períodos prolongados de isolamento ou hostilidade com família e amigos; o afastamento da escola ou queda importante no rendimento escolar; o afastamento de atividades grupais. Segundo Dutra (2001), também é possível perceber fases de tristeza, isolamento, tédio, desesperança e retraimentos que muitas vezes passam despercebidos por serem encarados como sinais comuns desta fase. Ainda sobre esta vivência depressiva, Dutra (2001) afirma que esta se revela, comumente, através de sentimentos de vazio, tédio, indiferença, solidão, abandono, impressão de ser mal-amado, incompreendido, ou rejeitado. 
Sobre os fatores de proteção à depressão na adolescência, Martins, Trindade e Almeida (2003) ressaltam que o apoio e a proteção são elementos significativos para a vida, tendo em vista que, ao mesmo tempo em que os adolescentes relatam precisar de liberdade para se divertir, informam sobre a necessidade de apoio e de proteção para sentirem-se seguros. 
Miria Benincasa e Manuel Rezendo fizeram um estudo buscando relacionar os fatores de risco e de proteção para a tristeza e suicídio entre adolescentes, bem como identificar, entre estes indivíduos, a percepção do risco de suicídio, identificar o que relatam como fatores de risco, e compreender o que consideram como fatores de proteção ao refletir sobre o tema. 
Neste estudo, Benincasa e Rezende selecionaram uma amostra de 32 adolescentes, com idade variando entre 14 a 18 anos, pertencentes às classes sociais A e D, conforme especificações do IBGE. A opção de classe A e D deveu-se ao interesse por identificar a percepção deste risco nas extremidades sociais.  
Para discutir sobre o tema Benincasa e Rezende abordaram questões como: “Vocês acham que suicídio é um risco na adolescência?”, “Como o adolescente se expõe a este risco?”, “Qual o motivo desta exposição?”, “Como é possível se proteger deste risco?”. Todo o material obtido desta discussão foi transcrito integralmente em seu artigo, e os resultados discutidos à luz da literatura encontrada sobre o tema.  
Sobre os fatores de risco, os adolescentes relataram: briga ou problemas dos pais; não ser escutado(a); sentir-se invadido(a); solidão; traição de amigos e/ou namorados(as); sentimento de desproteção e questões financeiras. Como consequência da exposição a estes fatores os adolescentes relacionaram o suicídio; depressão e prolongamento da tristeza; isolamento e auto-agressão. Ao refletirem sobre os possíveis fatores de proteção ao suicídio, os adolescentes foram concisos ao descreverem a proximidade familiar e ter alguém confiável para se abrir.  
Os fatores de risco comuns para as duas classes sociais foram: briga dos pais; solidão e traição de amigos e namorado (a). Conforme podemos observar na transcrição de alguns relatos:  
“O que me deixa mais triste mesmo é quando meus pais brigam. É como se eu tivesse que ficar do lado de um deles e o outro fica bravo comigo. Sempre acontece isso e eu não sei o que fazer.” 
“Mas o contrário também é ruim. Quando você percebe que as pessoas não estão muito preocupadas com você e que você tá mais sozinha do que você pensa.”  “Por exemplo, se sua namorada te troca por outro e você gosta muito dela. Você pode não agüentar de decepção.”
As consequências comuns a todos os grupos estudados indicaram: suicídio; depressão e prolongamento da tristeza; e isolamento. O relato de pensamentos suicidas presente em pelo menos um momento da vida foi unânime. Sobre depressão, os adolescentes demonstraram intimidade com o tema, reconhecendo como natural a experiência de momentos de tristeza e relacionando-a como consequência do fracasso na elaboração de tais momentos. Apontaram, também, o isolamento como reação à solidão. Relataram que a falta de pessoas confiáveis os levam a assumir este isolamento como uma realidade. 
Apenas um fator de proteção foi identificado comum em todos os grupos: alguém confiável para conversar. Os adolescentes afirmaram que a experiência de falar com alguém sobre as dificuldades diárias e seus sentimentos facilita a superação dos mesmos. Dizem que estão abertos a expor sua intimidade e a receber conselhos, mas não aceitam bem as soluções prontas. Apontaram que encontrar alguém disponível para ouvi-los e entendê-los os distancia das consequências “prolongamento da tristeza” e “isolamento”. “Só de ter alguém pra falar já é bom. Alguém que entende você.” “Sempre, a melhor coisa pra se sentir melhor é falar com alguém, que te escute, sem ficar te criticando, entende?” “Se você está mal mesmo não adianta. Você tem que desabafar com alguém. A melhor coisa é você procurar um amigo de verdade que te ouça. Que te dê conselhos.” 
A oferta de um espaço de escuta foi uma das sugestões apontadas pelos adolescentes à coordenação deste projeto. Os participantes relataram que a falta de oportunidade para refletir sobre seus sentimentos, provavelmente, os expõe a mais riscos ou colaboram na intensificação de sentimentos ruins. 
Uma curiosidade deste estudo é que o tema sugerido para a discussão foi o suicídio, no entanto, todos os grupos conduziram o debate para o tema tristeza. Os grupos apontaram o suicídio como uma consequência da tristeza. Não foram apresentadas diferenças relevantes entre as classes sociais quanto ao fenômeno “tristeza”. 
Ao final, Benincasa e Rezende concluíram que esta atividade promoveu nos adolescentes a oportunidade de refletir sobre seus próprios comportamentos de risco. O objetivo deste estudo não envolvia alterar tais comportamentos, apenas a discutí-los caso fossem percebidos. Ainda foi oferecida a oportunidade de reconhecerem alternativas de proteção aos riscos de “prolongamento da tristeza” e suicídio.

Referências bibliográficas

BAHLS, S.C. (2002). Aspectos clínicos da depressão em crianças e adolescentes: clinical features. Jornal de Pediatria , 78, 5, 359-366. 
BENINCASA, M.; REZENDE,M.M. Tristeza e suicídio entre adolescentes: fatores de risco e proteção. Boletim de Psicologia. N. 124. V. LVI. 93-110. 2006 
DUTRA, E.M.S. (2001). Depressão e suicídio em crianças e adolescentes. Mudanças, 9, 15, 27-35.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Gravidez na adolescência: ideação suicida

“O objetivo do suicídio é mais, na maioria das vezes, mudar de vida e não, por fim à mesma.”  (BOUCHARD, 2002, p.1).

Imagem da Internet
 A adolescência é uma fase de mudança e a mudança, por si só, não é algo fácil de vivenciar. São muitos os desafios que se impõem neste momento da vida e, por vezes, o adolescente pode sentir que não consegue lidar com eles, acreditando que o caminho mais fácil para a resolução de todos os seus problemas é colocar o fim à sua vida.
                                                 
O suicídio na adolescência é a terceira principal causa de morte é a segunda causa de internações na população de 10 a 19 anos do sexo feminino na rede SUS (Freitas e Botega, 2002).

Segundo Dutra (2001) a gravidez na adolescência associa-se a um risco suicida elevado, tanto durante a gestação, quanto no pós-parto, paralelamente a uma maior incidência de depressão e a uma percepção negativa da rede de apoio social4. Além disso, são freqüentes os registros de abusos físico e sexual nessa população5, o que se associa com a presença de ideação suicida6, com tentativas de suicídio e com sintomatologia depressiva crônica no primeiro ano após o parto7.

Para Bahls (2002), o maior item comum de risco suicídio na adolescência é a depressão, debilitante e recorrente, envolvendo um alto grau de morbidade e mortalidade. O autor ressalta que se deve estar atento para os seguintes sinais: os estados de humor irritável ou depressivo duradouro e/ou excessivo, os períodos prolongados de isolamento ou hostilidade com família e amigos; o afastamento da escola ou queda importante no rendimento escolar; o afastamento de atividades grupais e comportamentos como o abuso de substâncias (álcool e drogas), violência física, atividade sexual imprudente e fugas de casa.

Dutra (2001) concorda com Bahls (2002), relatando perceber fases de tristeza, isolamento, tédio, desesperança e retraimentos que podem ser encaradas como comuns, quando se discute este tema. O que muitas vezes esses sentimentos acompanham a gravidez de uma adolescente. Para este autor, os comportamentos suicidas podem ser compreendidos como uma defesa à depressão, enquanto que a depressão pode ser uma defesa contra o suicídio.
Sobre esta vivência depressiva, afirma que esta se revela, comumente, através de sentimentos de vazio, tédio, indiferença, solidão, abandono, impressão de ser “mal-amado’’, incompreendido ou rejeitado.

Estudos na literatura destacam os seguintes fatores que podem constituir-se a depressão e consequentemente o ato suicida: isolamento social, abandono, exposição à violência intrafamiliar, história de abuso físico ou sexual, transtornos de humor e personalidade, doença mental, impulsividade, estresse, uso de álcool e outras drogas, presença de eventos estressores ao longo da vida, suporte social deficitário, sentimentos de solidão, desespero e incapacidade, suicídio de um membro da família, pobreza, decepção amorosa, homossexualismo, bullying, locus de controle externo, oposição familiar a relacionamentos sexuais, condições de saúde desfavorável, baixa autoestima, rendimento escolar deficiente, dificuldade de aprendizagem, dentre outros (Avanci et al., 2005; Baptista, 2004; Borges e Werlang, 2006; Cassorla, 1991; Dutra, 2002; Espinoza-Gomez et al., 2010; Kokkevi et al., 2010; Meneghel et al., 2004; Prieto e Tavares, 2005; Toro et al., 2009; Werlang et al., 2005).

Embora neste artigo tenha se destacado a importância da identificação de fatores de risco, é preciso considerar também que o conhecimento a respeito dos fatores de proteção ao suicídio na adolescência é de vital importância para que se construam estratégias de prevenção e para que se possam atenuar os efeitos dos fatores de risco. Dessa forma, tornam-se necessário o fortalecimento das redes de apoio dos adolescentes, envolvendo principalmente a família, grupos de pares e escola, promovendo relações mais satisfatórias e maior bem-estar, tendo em vista que os relacionamentos pessoais e a percepção de apoio ocupam um importante papel nessa etapa do ciclo vital.


REFERÊNCIAS

BAHLS, S.; BAHLS, F.R.C. 2002. Depressão na adolescência: Características clínicas. Interação em Psicologia, 6:49-57.

BOUCHARD, G. 2001. Suicídio na adolescência. Disponível em: http://www.psychomedia.qc.ca.

DUTRA, E. 2002. Comportamentos autodestrutivos em crianças e adolescentes: Orientações que podem ajudar a identificar e prevenir. In: C.S. HUTZ (Ed.), Situações de risco e vulnerabilidade na infância e adolescência: Aspectos teóricos e estratégias de intervenção. Porto Alegre, Casa do Psicólogo, p. 53-87.

FREITAS, G.V.S.; BOTEGA, N.J. 2002. Gravidez na adolescência: Prevalência de depressão, ansiedade e ideação suicida. Revista da Associação de Medicina Brasileira, 48(3):245-249.