A indústria publicitária e midiática possui um
papel importante na sociedade contemporânea uma vez que a mesma torna possível
a difusão informações e conhecimento de forma quase que instantânea. Desta
forma a mídia tem o poder de influenciar as atitudes, crenças e comportamentos
sociais. Devido a esta influência, a mídia pode, ter um importante papel na
prevenção do suicídio, mas ao mesmo tempo se constituir uma perigosa ferramenta
enquanto publiciza esses atos.
Notícias e conteúdos midiáticos sobre suicídio
emergem uma acalorada discussão: como é possível cumprir a tarefa de informar,
sem influenciar terceiros e até mesmo promover a comercialização do ato
suicida? Segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria ( ABP, 2009) é uma
tarefa difícil. A abordagem faz-se ainda mais complicada quando o suicida é uma
figura pública ou celebridade. Em geral estes casos adquirem maior projeção e, conseqüentemente,
deve-se agir de forma ainda mais cautelosa ao efetuar-se a divulgação da
notícia.
Embora o suicídio seja um fenômeno amplamente
complexo e multifacetado, pesquisadores concordam com a aplicação da
terminologia de “contágio” quando se referem ao tema.
Segundo Strasburger, Wilson, Jordan (2011) a
exposição do suicídio encoraja outras a imitarem o comportamento, sendo que a
imitação é mais incidente entre o público adolescente. De acordo com a Comissão
de Prevenção de Suicídio da Associação Brasileira de Psiquiatria ( ABP, 2009),
já existem pesquisas que comprovam que “dependendo do foco dado a uma
reportagem, pode haver aumento no número de casos de suicídio” entretanto de
modo contrário é possível que a divulgação (consciente) pode “ ajudar pessoas
que se encontram sob risco de suicídio e até mesmo enlutadas pela perda de um
ente querido que colocou fim à vida”
Histórias de ficção como longas metragem, novelas
e até mesmo obras literárias que retratem histórias de suicídio podem também
influenciar o público de forma negativa. Como exemplo pode-se citar o filme
Romeu e Julieta que de forma claramente tendenciosa romantiza a abordagem em
questão. Na trama a ação suicida fica subentendida como um ato heróico e audaz,
uma vez que os protagonistas não são capazes de viver um sem o outro (
STRASBURGER, WILSON, JORDAN, 2011). Contudo torna-se extremamente perigoso
associar o suicídio somente à influência da mídia e da ficção, estar-se-ia
desta forma adequando o tema à uma visão bastante simplista e reducionista.
Diversos veículos de comunicação optam pela não
divulgação de notícias relacionadas ao suicídio, outros tantos entendem a
responsabilidade social ao fazê-lo, uma vez que entendem a exposição maciça do
fato poderia influenciar pessoas que estejam emocionalmente mais vulneráveis à
cogitar e posteriormente, cometer o ato.
A ABP (2009) recomenda que os noticiários evitem
explorar o sensacionalismo acerca do ocorrido glorificando ou “heroicizando” a
pessoa envolvida, e ainda fornecendo detalhes de como se deu ato. Muito além de
todas as questões relacionadas aos cuidados necessários ao se publicar noticias
de atos suicidas, faz-se necessário exercitar o bom senso e o respeito. Sim,
respeito. Respeito pelo falecido, respeito aos familiares e respeito à
sociedade.
A mídia pode se constituir como uma grande
ferramenta na formação da criança e do adolescente uma vez que a mesma possui
efeitos educativos e pró-sociais. Entretanto nota-se que o que rende audiência
(e lucro) são conteúdos relacionados a violência e tragédia. Certamente
apresenta-se como um enorme desafio para a indústria midiática conduzir e
reproduzir com seriedade conteúdos com mensagens alternativas. Divulgando conteúdos
não sensacionalistas, que sejam capazes de atrair a atenção, a mídia está
cumprindo o seu compromisso de cuidado ético com a sociedade, e exercendo o seu
papel educativo e preventivo das mais variadas formas de violência.
Referencias
ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE PSIQUIATRIA (ABP), Comportamento suicida: Conhecer para
prevenir. Dirigido para profissionais de imprensa. Rio de Janeiro. Ed. ABP,
2009.
Prevenir
o suicídio: um guia para profissionais da mídia artigo disponível em : http://www.abelsidney.pro.br/prevenir/guiamidi.html
STRASBURGER, Vistor C. ; WILSON, Barbara;
JORDAN, Amy B. Crianças,
adolescentes e a mídia. Porto Alegre:
Artemed. 2ª edição. 2011.
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