“Não se pode esquecer que o suicídio não é nada mais que uma
saída, uma ação, um término de conflitos psíquicos.”
FREUD (1910)
Milhares de crianças e adolescentes são hospitalizados, a
cada ano, em razão de ameaças ou comportamentos suicidas. Uma criança pequena
não é capaz de planejar e levar adiante um plano suicida, porém, favorecem
situações que colocam sua vida em risco. Nos Estados Unidos, o suicídio
representa atualmente a terceira causa de morte na adolescência.
Os sinais indicativos de episódio depressivo devem ser
considerados em conjunto, pareados com o tempo de duração e com as mudanças
comportamentais da criança. Entre os sinais indicadores de episódio depressivo,
sempre levando em conta a idade da criança, podemos considerar a alteração
drástica no desempenho escolar, desleixo na aparência, apatia, ausência de
reações afetivas, acidentes freqüentes em que a criança de fato se fere,
conduta agressiva, baixa tolerância à frustração, dificuldades de sono,
pesadelos, sonolência, distúrbios do apetite, enurese. Muitos dos sinais e
sintomas que a criança apresenta podem passar despercebidos até mesmo pelos
pais, podendo ser interpretados como birras, má-criações diversas ou
idiossincrasias adquiridas. Tudo isso é indicativo de como a depressão na
infância é difícil de ser reconhecida, não só por clínicos, mas, especialmente
pelos próprios familiares. Aberastury (1984) adverte que quando os adultos têm
dificuldade em conversar com a criança sobre a morte, especialmente quando
existe a perda de alguma pessoa querida para a família e também para a criança,
fazendo rodeios ou inventando estórias, há como conseqüência um impedimento na
elaboração do luto por parte da criança, impulsionando-a a desejar seguir o
caminho da pessoa perdida. A criança tem percepção da morte e reage de acordo
com as condições e recursos propiciados pelo seu ego infantil; desde o
nascimento ela enfrenta perdas, sofre com elas e quando impedida de conhecer o
destino de seus entes queridos, por dificuldades que os adultos possuem ao
encarar as perdas, pode desenvolver falhas em seu desenvolvimento egóico,
solucionando ou negando a dor de forma mágica, que futuramente poderá
transformar-se em uma fraqueza psíquica, tornando-a despreparada, vulnerável
para situações futuras, predispondo-a a estados depressivos, por não ter um ego
suficientemente forte para lidar com o luto e com a ausência.
Marcelli (1998) aponta que alguns aspectos aparecem
regularmente no ambiente familiar da criança que sofre de depressão. Entre
esses aspectos pode-se destacar a história de depressão familiar, especialmente
da mãe ou do pai, que possibilita com que a criança, ainda em fase de formação
e ávida por identificações, torna-se semelhante psiquicamente ao genitor
deprimido, ou adquire um sentimento generalizado de que a mãe é inacessível, o
sentimento de que a criança não possui qualidades que atraiam o interessa da
mãe e possa com isso satisfazê-la; quando um dos pais manifestamente rejeita a
criança, ou a presença de uma acentuada rigidez educativa, possibilitando a
constituição de um superego severo e punitivo, incluindo as crianças vítimas de
abuso sexual, pois se sentem responsáveis e culpadas pelo abuso sofrido, condição
esta determinando do silêncio da criança vitimada.
A depressão pode alterar negativamente o desenvolvimento
social. Os adolescentes deprimidos tendem a isolar-se ou a serem rejeitados por
seus amigos. Duvidando do seu próprio valor, pensam que não podem ser aceitos a
não ser por imitação dos outros, o que os torna vulneráveis às sugestões
negativas do grupo ao uso de droga, do álcool e à participação em atividades
sexuais inadequadas. O isolamento e a passividade social prejudica a
oportunidade de aprendizado dos comportamentos da comunicação que se tornam
deficientes (Feijó & Chaves, 2002).
Conclui-se que o desenvolvimento de relações familiares
boas, afetivas, de acolhimento e de sustentação adequadas na infância, podem
propiciar o estabelecimento de um ego seguro, com sentimento de autoestima
adequado e de exigências proporcionais ao que lhe é possível. É necessário
ressaltar que o ambiente em si não é um determinante único para a saúde mental,
porém, completa-se com a vivência de experiências internas e que auxiliam a
pessoa ao desenvolvimento da personalidade positivamente para enfrentar as
vicissitudes que a vida proporciona. Se, por exemplo, tivermos um
descontentamento com a forma de nosso corpo, ou com nossos hábitos, estaremos,
sem ter consciência de nossas ações, influenciando outros com a nossa atitude,
favorecendo assim a criação de círculo vicioso, em que o não se gostar
generaliza-se em sentimentos de rejeição. Ou seja, o nosso ego, e por
consequência se a autoestima estiver rebaixada, olharemos o mundo e as pessoas
de forma negativa, e dessa forma pensaremos que também estaremos sendo olhados;
um exemplo claro do mecanismo psíquico de projeção. Esse fato nos leva a
considerar que mesmo se tratando de uma depressão determinada por um desequilíbrio
dos neurotransmissores, o mecanismo que veicula os sentimentos, os sentidos das
ações e da ação psíquica geral, são estritamente psicológicos. Pode-se
considerar, portanto, que a depressão está relacionada a muitos fatores
psicológicos, biológicos e sociais. O fato de não termos uma avaliação positiva
de nós mesmos, de não nos gostarmos leva e é resultado de estados psíquicos
internos, profundamente arraigados que se espalham pelo mundo em volta. A
tomada de providências para melhorar o desenvolvimento do ego, procurando um
patamar em que este esteja em sintonia, mais próximo dos ideais de ego, pode
influir de maneira positiva na concepção de mundo que possui uma pessoa, em sua
auto avaliação, em uma autoestima adequada e necessária para o enfrentamento das
vicissitudes da realidade. O narcisismo nem sempre é patológico, especialmente
quando o corpo, possibilidade para todas enfermidades, necessita de uma atitude
que possa espelhar, mesmo através da dor, a força da vida.
Referências:
Capitão, Cláudio Garcia. "Depressão e suicídio na
infância e adolescência."Psicopedagogia online 1 (2007): 1-7.
Feijó, R. B.; & Chaves, M. L. F. (2002). Comportamento
suicida. Em Costa, M. C. O. & Souza, R. P. de.(Orgs.). Adolescência:
Aspectos Clínicos e Psicossociais.(pp. 398-408). Porto Alegre: Artmed.
Nenhum comentário:
Postar um comentário