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quarta-feira, 25 de novembro de 2015

A relação entre depressão e comportamento de autoextermínio na infância e adolescência



“Não se pode esquecer que o suicídio não é nada mais que uma saída, uma ação, um término de conflitos psíquicos.” 
FREUD (1910)

 Milhares de crianças e adolescentes são hospitalizados, a cada ano, em razão de ameaças ou comportamentos suicidas. Uma criança pequena não é capaz de planejar e levar adiante um plano suicida, porém, favorecem situações que colocam sua vida em risco. Nos Estados Unidos, o suicídio representa atualmente a terceira causa de morte na adolescência.
Os sinais indicativos de episódio depressivo devem ser considerados em conjunto, pareados com o tempo de duração e com as mudanças comportamentais da criança. Entre os sinais indicadores de episódio depressivo, sempre levando em conta a idade da criança, podemos considerar a alteração drástica no desempenho escolar, desleixo na aparência, apatia, ausência de reações afetivas, acidentes freqüentes em que a criança de fato se fere, conduta agressiva, baixa tolerância à frustração, dificuldades de sono, pesadelos, sonolência, distúrbios do apetite, enurese. Muitos dos sinais e sintomas que a criança apresenta podem passar despercebidos até mesmo pelos pais, podendo ser interpretados como birras, má-criações diversas ou idiossincrasias adquiridas. Tudo isso é indicativo de como a depressão na infância é difícil de ser reconhecida, não só por clínicos, mas, especialmente pelos próprios familiares. Aberastury (1984) adverte que quando os adultos têm dificuldade em conversar com a criança sobre a morte, especialmente quando existe a perda de alguma pessoa querida para a família e também para a criança, fazendo rodeios ou inventando estórias, há como conseqüência um impedimento na elaboração do luto por parte da criança, impulsionando-a a desejar seguir o caminho da pessoa perdida. A criança tem percepção da morte e reage de acordo com as condições e recursos propiciados pelo seu ego infantil; desde o nascimento ela enfrenta perdas, sofre com elas e quando impedida de conhecer o destino de seus entes queridos, por dificuldades que os adultos possuem ao encarar as perdas, pode desenvolver falhas em seu desenvolvimento egóico, solucionando ou negando a dor de forma mágica, que futuramente poderá transformar-se em uma fraqueza psíquica, tornando-a despreparada, vulnerável para situações futuras, predispondo-a a estados depressivos, por não ter um ego suficientemente forte para lidar com o luto e com a ausência.
Marcelli (1998) aponta que alguns aspectos aparecem regularmente no ambiente familiar da criança que sofre de depressão. Entre esses aspectos pode-se destacar a história de depressão familiar, especialmente da mãe ou do pai, que possibilita com que a criança, ainda em fase de formação e ávida por identificações, torna-se semelhante psiquicamente ao genitor deprimido, ou adquire um sentimento generalizado de que a mãe é inacessível, o sentimento de que a criança não possui qualidades que atraiam o interessa da mãe e possa com isso satisfazê-la; quando um dos pais manifestamente rejeita a criança, ou a presença de uma acentuada rigidez educativa, possibilitando a constituição de um superego severo e punitivo, incluindo as crianças vítimas de abuso sexual, pois se sentem responsáveis e culpadas pelo abuso sofrido, condição esta determinando do silêncio da criança vitimada.
A depressão pode alterar negativamente o desenvolvimento social. Os adolescentes deprimidos tendem a isolar-se ou a serem rejeitados por seus amigos. Duvidando do seu próprio valor, pensam que não podem ser aceitos a não ser por imitação dos outros, o que os torna vulneráveis às sugestões negativas do grupo ao uso de droga, do álcool e à participação em atividades sexuais inadequadas. O isolamento e a passividade social prejudica a oportunidade de aprendizado dos comportamentos da comunicação que se tornam deficientes (Feijó & Chaves, 2002).
Conclui-se que o desenvolvimento de relações familiares boas, afetivas, de acolhimento e de sustentação adequadas na infância, podem propiciar o estabelecimento de um ego seguro, com sentimento de autoestima adequado e de exigências proporcionais ao que lhe é possível. É necessário ressaltar que o ambiente em si não é um determinante único para a saúde mental, porém, completa-se com a vivência de experiências internas e que auxiliam a pessoa ao desenvolvimento da personalidade positivamente para enfrentar as vicissitudes que a vida proporciona. Se, por exemplo, tivermos um descontentamento com a forma de nosso corpo, ou com nossos hábitos, estaremos, sem ter consciência de nossas ações, influenciando outros com a nossa atitude, favorecendo assim a criação de círculo vicioso, em que o não se gostar generaliza-se em sentimentos de rejeição. Ou seja, o nosso ego, e por consequência se a autoestima estiver rebaixada, olharemos o mundo e as pessoas de forma negativa, e dessa forma pensaremos que também estaremos sendo olhados; um exemplo claro do mecanismo psíquico de projeção. Esse fato nos leva a considerar que mesmo se tratando de uma depressão determinada por um desequilíbrio dos neurotransmissores, o mecanismo que veicula os sentimentos, os sentidos das ações e da ação psíquica geral, são estritamente psicológicos. Pode-se considerar, portanto, que a depressão está relacionada a muitos fatores psicológicos, biológicos e sociais. O fato de não termos uma avaliação positiva de nós mesmos, de não nos gostarmos leva e é resultado de estados psíquicos internos, profundamente arraigados que se espalham pelo mundo em volta. A tomada de providências para melhorar o desenvolvimento do ego, procurando um patamar em que este esteja em sintonia, mais próximo dos ideais de ego, pode influir de maneira positiva na concepção de mundo que possui uma pessoa, em sua auto avaliação, em uma autoestima adequada e necessária para o enfrentamento das vicissitudes da realidade. O narcisismo nem sempre é patológico, especialmente quando o corpo, possibilidade para todas enfermidades, necessita de uma atitude que possa espelhar, mesmo através da dor, a força da vida. 

Referências:
Capitão, Cláudio Garcia. "Depressão e suicídio na infância e adolescência."Psicopedagogia online 1 (2007): 1-7.
Feijó, R. B.; & Chaves, M. L. F. (2002). Comportamento suicida. Em Costa, M. C. O. & Souza, R. P. de.(Orgs.). Adolescência: Aspectos Clínicos e Psicossociais.(pp. 398-408). Porto Alegre: Artmed.


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